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“A Maçonaria no Alto Alentejo” vê a luz do dia este sábado

Há um livro que promete desvendar alguns mistérios e contar algumas histórias: chama-se “A Maçonaria no Alto Alentejo 1821-1936”, da autoria do professor António Ventura, e será apresentado este sábado, no Alto Alentejo, em Portalegre, terra natal do autor.

No Centro de Congressos da Câmara de Portalegre, a apresentação da obra será feita por Maria de Fátima Nunes, professora catedrática da Universidade de Évora, decorre a partir das 16h30.

Na iniciativa estará também a Escola de Artes do Norte Alentejano e que tocará algumas músicas.

Terras sem tempo

O termómetro marcava 43 graus centígrados, uma temperatura que já se tornara normal por aqueles lados. Situada no fundo de um córrego, havia uma casa pequena, pintada de branco e com paredes tão grossas que não deixavam que, durante o dia, esse calor que se fazia sentir entrasse lá dentro. Durante a noite, porém, quando o Sol fugia, o calor escondia-se naquela casa. Lá dentro, os 43 graus do calor ficavam escondidos, até que o escuro e o frio da noite se fossem embora, aos primeiros raios de Sol.

Sacas de serapilheira em nuvens de nylon e de sonhos

No mesmo dia em que fazia 40 anos, Chico Zé amarrou um fio de nylon numa saca de serapilheira cheia de alfarrobas e abalou pelo cerro acima. Levava também consigo uma outra saca de serapilheira repleta das mesmas cordas de nylon que o lugar que subia era tão alto que as nuvens se acomodavam a meio e o que estava acima disso, poucos tinham sido os que conseguiram ver. Ambas as sacas iam também cheias de sonhos.

Mais do que a letra M

Muito mais do que a letra M, esta semana, o texto que aqui se escreve representa um elogio rasgado às pessoas cujo nome começa com a letra M, às terras que se iniciam por esta mesma letra e especialmente aos alimentos e aos produtos que também começam pelo mesmo carácter. Digamos… Medronho.

Viver dói

Querida eu,

Chega de tremer. Faz o teu coração caminhar bem. Calmamente. Não estás numa corrida. Faz com que ele ande num jardim; num dia comum de primavera. O teu (meu) corpo não merece esta dança constante que o teu (meu) cérebro insiste em comandar.

Tenho um punho fechado e pesado permanentemente fixado ao longo do meu esófago.

Não, não tens.

A minha cabeça está a rodar.

É desta vez que vou.

Não aguento mais.

Chega.

Quero impor um fim a isto.

Aperto a mão. Com a força máxima que me é dada. Cravo as unhas.

Romã

Tenho uma árvore no meu quintal. Mesmo em frente à porta da frente, há uma árvore. Uma bela árvore. Opulente, graciosa, tem flores e tem frutos. Chama-se Romanzeira. O seu nome e o nome que lhe dei eu próprio. Sabia de todos os seus significados. Da sua componente espiritual em várias religiões. A minha romãzeira crescia e medrava a cada dia. Em frente à minha porta, parecia ser ela que me indicava o caminho a seguir.

Quantidade ou qualidade

Qualquer coisa, quando fosse necessário, servia para Cândido apresentar a sua versão das coisas que queria. Quase doutorado em Química, o estudante de terceiro grau, ofuscava com o seu discurso verborreíco qualquer pessoa que o rodeava.

Pouco percebia de coisas banais, mas tinha, ou fazia parecer que tinha, um extenso conhecimento sobre um pouco de tudo e aprofundado de nada. Isto, sabemos nós, eu e o leitor. O restante público que interagia com Cândido nada percebia das coisas de que falava e, por isso, podia de forma eloquente, expor a sua teoria completa.

Perceves?

Agarrado à rocha mãe, sentia-se seguro. Ainda que a água por vezes batesse com mais força, Perceve percebia que ali estava seguro. Assim era e assim se sentia.

Nunca e fácil afastar-nos do lugar onde temos a segurança de que precisamos. Era o caso de Perceve. Rapaz dos seus quase vinte anos, Perceve da Silva Cruz Pereira entrou para a universidade. Tinha chumbado um ano no ciclo, por só pensar em brincadeira e não estudar como deve ser.

A escrita que me descobre

Comecei a escrever em criança. Não sei quantos anos tinha. Se tivesse que dizer uma idade, apostava em sete anos. Era uma criança. Noutro século, quase. Não era a mesma pessoa, a única coisa que temos comum, neste momento, é esta incrível paixão pelas letras e a forma como se unem para criar uma melodia.

Lembro-me como se fosse ontem do quão adulta me sentia a escrever; recriava episódios dos meus desenhos animados favoritos e adicionava aquilo que eu queria que acontecesse, com novas personagens e intrigas.

Osga

Vivia com uma osga. Nas paredes do meu quarto e da minha vida, tinha uma osga comigo. Réptil que me acompanhava para todo o lado e que, agarrada com as suas ventosas, desafiava os meus medos mais irracionais. A osga olhava-me dia e noite. Por volta do meio dia agarrava um mosquito com a língua que punha de fora. As melgas e os mosquitos desesperavam com medo daquilo que poderia sair dali. A osga era infalível, cada vez que a sua língua se esticava. Muitas vezes mais longa do que o seu próprio corpo. Seria por ciúme? Sempre me intrigou e numa obtive uma resposta.

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