Utilizamos muitas vezes a palavra de utopia quando temos um desejo difícil de alcançar. Há quem defenda uma definição de utopia como a ideia de uma civilização ideal, imaginária e fantástica. Trata-se de um sistema ou plano que parece não ser possível na prática. Algo que tem a forma de ilusão, sonho, devaneio ou fantasia. A palavra utopia tem a origem do grego “ou+topos” que pode ser traduzido como “lugar que não existe”.
A minha intenção ao utilizar este conceito é tentar perceber se existe uma verdadeira utopia para o projeto europeu?
Ora vejamos: O 9 de maio é do Dia da Europa. Comemora-se a paz e a unidade no continente europeu. Este dia é inspirado no discurso proferido em Paris, em 1950, por Robert Schuman, o então Ministro dos Negócios Estrangeiros francês, onde apresentou a sua visão de uma nova forma de cooperação política na Europa, que impediria novamente uma potencial guerra entre países europeus.
Esta ideia sustentou a base dos alicerces para a criação de uma instituição europeia capaz de gerir a produção comum do carvão e do aço. Pouco mais de um ano mais tarde, era então assinado o tratado que criava uma entidade com essas funções. Considera-se que a atual União Europeia teve início com a proposta de Schuman. Por isso mesmo, a União Europeia comemora o 9 de maio como o dia da Europa.
Em paralelo, nos países sob influência da antiga União Soviética (a partir de 1967) o Dia da Vitória começou a ser comemorado nos dias 09 de maio, referindo-se ao dia da capitulação das forças nazis perante as tropas soviéticas, e passou a ser considerado um dia feriado nacional na maioria destes países. Inevitavelmente a Federação Russa continua a comemorar este dia com toda a pompa e circunstância.
Por uma razão ou outra, o dia 9 de maio tem um significado extremamente importante para os povos europeus. Naturalmente compreensível!
Infelizmente, tendo em conta o contexto de invasão da Rússia à Ucrânia, este dia passou a ter um significado diferente. Passou a estar associado ao projeto europeu, mas também numa lógica de exibicionismo bélico e do poderio da Rússia. Talvez exagerado, mas é assim que a maioria da comunicação social tenta descrever o dia.
Continuo a acreditar que o dia 9 de maio é o dia de TODOS os europeus. O dia em que os europeus disseram sim a um projeto de interesse comum. Um projeto de paz. Um projeto de desenvolvimento dos povos.
Apesar do contexto de guerra e da autocracia de Putin e dos seus pares, continuo a acreditar no modelo de sociedade europeia. Um modelo de desenvolvimento em que todos os povos contam. O modelo mais avançado do Mundo. Um modelo de valores muito positivos. Um modelo em que paz é determinante. Um modelo em que a Rússia também pode fazer parte.
Acredito, também, que é este modelo em que os cidadãos russos, bielorussos, entre outros, preferem e gostariam de fazer parte. Há quem não os deixe entrar, mas estou convencido que todos estes cidadãos o pretendem partilhar. Uma sociedade democrática e livre, promotora de oportunidades e desenvolvimento comum. Naturalmente com muitos defeitos, mas muitas virtudes a compensar.
Talvez seja uma utopia. Mas afinal o que é a utopia? Há quem entenda que utopia é um horizonte espetacular, mas extremamente difícil de alcançar.
Seja como for, para mim o mais importante não é propriamente o «horizonte», mas sim cada um dos passos que se dão para o alcançar.
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