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A CONVERSA

Hoje não me apetece falar contigo. Acho que aquilo que era para ser dito já foi tantas vezes que não vale a pena nos repetirmos em parágrafos longos e cansativos como fizemos tantas vezes. E para quê? Para acabarmos sem nos falar durante semanas como sempre aconteceu? Hoje não me apetece que fales comigo. Imagina que sou um manequim estático e mudo, sem vida. Imagina que sirvo apenas para enfeitar uma montra de uma loja numa rua qualquer de Portugal, onde pouca gente passa e onde está um cartão escrito a marcador e colado a fita-cola que diz: Saldos de 15 de agosto a 14 de setembro.

O MEU CÃO

O meu primeiro cão chamava-se Piriquito e a memória mais remota que tenho dele remonta à altura em que eu teria 3 ou 4 anos. A presença de um animal de estimação para uma criança, especialmente um cão, sempre marca e torna a vida muito mais interessante. Recordo-me bem da nossa amizade profunda, da nossa cumplicidade. Era um cão baixo. Nenhuma raça em especial, mas muita personalidade. Guardo ainda fotos dele que nos tiraram. A nossa amizade manteve-se enquanto foi possível pois, aquando do meu nascimento, o Piriquito já era velho e a duração das nossas vidas é diferente. Jamais esqueci os momentos até hoje. Os seus olhares de aprovação, de inclinar ligeiramente a cabeça quando me queria dizer alguma coisa ou pedir comida, essencialmente por telepatia pois não nos seria fácil utilizar o mesmo código de linguagem. Era o meu cão, o meu melhor amigo. Às vezes fazíamos corridas monte acima, no meio do Caldeirão, em que, obviamente, ele ganhava sempre. Correr com quatro patas é, aparentemente, mais vantajoso do que com duas. Acho que as galinhas têm a mesma opinião que eu.

JE SUIS LOUISE ALBA

Quando se faz tal afirmação, o leitor não precisa de dominar o francês para entender o paralelo entre a referida frase e a de uma campanha contra o terrorismo iniciada em França há uns meses. Do mesmo modo, escusado será dizer que, apesar de nem sempre parecer, estou na plena posse das minhas faculdades mentais, não padecendo, portanto, de nenhuma enfermidade suscetível de me toldar o raciocínio nem tampouco de transtorno dissociativo de personalidade.

E SE A MORTE FIZESSE UMA PAUSA?

E se não houvesse morte? Se as pessoas simplesmente deixassem de morrer? Após séculos e séculos à procura do elixir da juventude, buscando sem fim um meio de deter o tempo, julgando escapar às suas presas, eis que Saramago nos diz nas Intermitências da Morte que é necessário morrer. Porquê? Ninguém quer morrer. No entanto, por uma infinidade de razões, a morte, além de ser parte da vida, torna-se imprescindível e surpreendentemente desejável, nem que seja de um ponto de vista sanitário. Pois, infelizmente, a ausência de morte acarreta danos colaterais, como era de esperar.

TROPOS, MA NON TROPPO

As figuras de estilo são elementos textuais que nos permitem atribuir às palavras um sentido conotativo, isto é figurado, com o intuito de tornar o discurso mais expressivo. Talvez não seja exagerado dizer que a maioria do comum dos mortais crê que só os eruditos as utilizam em produções literárias ricas e complexas, mas a profusão de figuras de estilo que surgem no quotidiano autorizam-nos a afirmar que não existe, na verdade, nada mais popular (simultaneamente afamado e comum), já que usamos maquinalmente metáfora, metonímia, sinédoque, catacrese, metalepse e outros tropos (figuras que alteram o sentido das palavras conferindo-lhe um valor conotativo).

(DE)GRADAÇÃO EM TONS DE CINZA

No verão passado, em Brasília, numa daquelas maravilhosas tardes de dolce fare niente, a minha gêmea resolveu passar para o meu leitor uma série de e-books de que dispunha, sendo um deles “As Cinquenta Sombras de Grey”. Confesso que já tinha ouvido falar do livro como sendo o último must have das donas de casa que procuravam apimentar a sua vida sexual. E logo aí, associei-o, na minha mente perversa, a práticas sadomasoquistas dignas de envergonhar Rasputin.

E foi assim, apesar de não ter sentido particular interesse no livro, numa noite de tédio, que comecei a leitura, cedendo ao ímpeto ingénuo de seguir o jovial rebanho.

Li-o em pouco tempo. Não posso dizer que não se leia bem, mas… Por onde começar?

HERMENÊUTICA PARA TOTÓS

Nos meus mais tenros tempos de estudante, fazendo prova de grande ingenuidade, cheguei a perguntar a Urbano Tavares Rodrigues (1) se considerava legítima a minha interpretação do seu romance “Filipa Nesse Dia”. Ao que me respondeu que o texto, uma vez publicado, já não é seu. De facto, significa, parafraseando o autor, que o mais importante é o que nós lá encontramos e o que lá encontramos está lá.

Assim, segundo Urbano Tavares Rodrigues, a intenção do autor pode não corresponder à interpretação do leitor, mas autoriza que o segundo traga à luz do dia, pelo prisma da sua leitura, as obsessões mais profundas e o inconsciente do primeiro.

“NÓS” - A SIMBIOSE PERFEITA

Francisco Caeiro e Ângelo Rodrigues

O alentejano Francisco Caeiro e Ângelo Rodrigues lançam, no próximo dia 9 de maio, na Fnac do Chiado, pelas 16 horas, o livro “Nós”. Na apresentação, poemas do livro serão declamados pelo ator Vítor de Sousa.

O “Nós” nasce da simbiose perfeita entre os poemas de Francisco Caeiro e as fotografias de Ângelo Rodrigues: “à mesa dos cafés de Lisboa ou algures nos passeios à beira Tejo, as nossas conversas de amigos foram sendo ilustradas pela poesia das palavras e das imagens; pedaços de nós das nossas histórias. Um dia achamos que seria bom podermos ter mais amigos nestas conversas e surgiu este livro. Por isso “Nós”; porque somos muitos, e todos em redor da poesia.”

Conheça a nova "Arma de Instrução em Massa"

Raul Lemesoff, artista de Buenos Aires converteu um antigo Ford Falcon para parecer um tanque militar. Contudo, em vez de o configurar para questões balísticas, o tanque foi construído para ser uma biblioteca móvel com cerca de 900 livros nomeada pelo autor como uma “arma de instrução massa”.  

As Aventuras de Huckleberry Finn

Foi em 1876 que Sammuel L. Clemmens, conhecido para a literatura como Mark Twain, começou um esboço do que viriam a ser ““As Aventuras de Huckleberry Finn”, a obra que Ernest Hemmingway definiu como “a origem da literatura norte-americana”.

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