22 Março 2016      14:41

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O QUE FAZ UMA BOA DECISÃO?

Um dos dilemas mais conhecidos da economia fala-nos sobre a escassez de recursos. A possibilidade de produção de bens é claramente superior à disponibilidade de recursos.

Na prática tem a ver com a necessidade de nos vermos obrigados a escolher o melhor uso a dar ao (pouco) que temos, que é como quem diz decidir o que fazer com cada euro que temos disponível, sabendo que existem opções que tendem para o infinito.

Perante este dilema, somos forçados a tomar decisões optando por usar esse euro de determinada forma, sempre em detrimento de outra.

E o que é que está por trás dessa mais ou menos difícil tomada de decisão?

Vamos por partes.

Para as famílias, é consensual referir que a sua decisão é tomada com base na utilidade que cada um atribui a determinado bem. Isto permite que ordenemos as nossas preferências e que as vamos tentando satisfazer, até esgotar o orçamento que temos disponível.

A satisfação, utilidade e valor que cada um atribui a determinado bem varia de pessoa para pessoa, daí que a decisão “certa” para uns pode ser a decisão “errada” para outros. Uns escolhem poupar e investir, outros consumir já, sem pensar no amanhã. Comprar um livro, um par de ténis, ou ir de férias. Comida ou um iphone. Prejudicamos um desejo por outro, partindo do princípio que a que escolhemos é aquela que nos deixará mais satisfeitos.

No caso das empresas, qualquer tomada de decisão está subjacente à maximização do lucro, lucro que permita suportar todos os encargos e distribuir essa mesma riqueza por quem de direito.

E quando toca a decisões públicas? Os livros dizem-nos que existem várias metodologias de apoio à tomada destas decisões. Muito estudo, priorização e avaliação, numa rigorosa análise custo-benefício.

Mas na prática, será que é isto que se verifica? Ou pelo menos é essa a ideia que transparece?

Por exemplo, porque é que em vez de se recuperar os descontos dos passes nos transportes públicos, se optou por suportar as viagens gratuitas dos seus familiares?

Ou porque é que se decide gastar dinheiro em festas de Natal para a terceira idade em lugar de apoiar a conta da farmácia dessa mesma franja da população?

Porque é que se investe num campo de futebol e não num outro equipamento público?

Porque é que se suportam os custos com carnavais e não se reabilitam imóveis para fomentar e apoiar o arrendamento?

Porque é que se apoia a celebração de certas datas festivas e outras não?

 Por vezes parece que  estas decisões não são tomadas em termos de racionalidade económica. Que não foram avaliados todos os impactos.

Infelizmente dá a sensação que é para “inglês ver”,  ou para compensar uma outra decisão do tipo: “os apoios só existiam para isso”,  ou “se o meu vizinho fez uma eu vou fazer maior!”
Acima de tudo, não existe a necessária transparência para que se percebam as razões dessa mesma decisão. Não são dadas as necessárias e adequadas justificações por quem toma estas decisões.

Na casa de família, há que justificar porque é que “há dinheiro para umas coisas e não há para outras”.

No seio da empresa, há que justificar perante os seus empregados, sócios e acionistas e se as justificações não satisfazerem, muito provavelmente serão pedidas cabeças.

E a nível público? Há lugar a estas justificações?
Os fatores que levaram à decisão deveriam ser públicos no seu todo e consequentemente passíveis de serem criticados ou aprovados.

A realidade é que estamos cada vez mais exigentes e descontentes com as decisões que emanam da esfera política.

Talvez seja altura de exigir mais. Altura de… tomar uma decisão.

Imagem de capa daqui.