28 Novembro 2020      15:58

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A fuga do peru

Dia 26 de novembro do corrente, antecipando a grande festividade do dia do peru nos Estados Unidos, Macário, um peru grande e encorpado que vivia no meio desse país, antecipou um acontecimento que o deixaria em sérios problemas, se não, questão de vida ou de morte. Neste caso sabemos que seria mais de morte.

Há uma tradição aqui deste lado do Atlântico de sacrificar um animal que será barbaramente degustado por um número enorme de comensais. Trata-se do Dia de Ação de Graças. Quem não acha muita graça são os perus. Neste caso Macário não achava mesmo piada nenhuma.

Algo lhe dizia que alguma coisa ia correr muito mal para o seu lado. Tinha visto o presidente na televisão perdoar um da sua espécie e salvá-lo do forno, acabado tostado de pernas para cima, cheio até com stuffing no dito.

Macário vendo que o perdão não lhe ia tocar, tinha de arquitetar um plano que não passasse pela mesa.

Como era um peru que pensava muito e bem sobre todas as coisas, depressa chegou a uma conclusão. Ia falsificar um passaporte, comprar uma viagem, arranjar um fato humano, óculos e algo para disfarçar as perninhas de peru. Parecia um bom plano.

La conseguiu arranjar o passaporte em pouco tempo. Através da dark web conseguem-se essas coisas, dizem os entendidos. Eu pouco percebo disso. A viagem foi relativamente fácil. O destino possível só podia passar por dois países. Ou Peru ou Turkey, que dizem ali estes animais têm alguma proteção. Não sei se é verdade ou não.

Fez a mala, prova de que não era peru e foi a uma loja de disfarces onde comprou uma máscara completa, fato e botas que lhe permitia embarcar sem problemas.

Deixou-se ficar sossegado até à hora do voo. O seu coraçãozinho de peru batia mais forte que nunca com o receio de ser apanhado.

Decidira ir para o Peru, mais precisamente a capital Lima, onde arranjou um Airbnb.

A viagem correu bem. Até teve direito a uma refeição vegetariana. A outra opção era peru ou carne.

Mal chegou a Lima, instalou-se no seu apartamento com uma sensação de alívio e liberdade. Viveria. Ligou aos parentes para dar conta da boa nova.

Infelizmente nenhum deles atendeu o telefone nem nesse dia nem nunca mais, vá se la perceber porquê. Macário viveu feliz, isso sabe-se.