A Ordem dos Médicos critica a atribuição ao Hospital do Espírito Santo (Évora) de uma vaga para contratar um especialista em cirurgia cardíaca, sublinhando que a unidade hospitalar não reúne os requisitos para desenvolver em pleno esta especialidade.
Em comunicado, citado pela Lusa, o bastonário da Ordem dos Médicos (OM) e os presidentes dos Colégios de Cardiologia e de Cirurgia Cardiotorácica dizem ter recebido “com estranheza e preocupação” a informação de que, no concurso que está a decorrer para várias especialidades hospitalares, foi atribuída uma vaga para contratação de um especialista em cirurgia cardíaca nesta unidade.
De acordo com os responsáveis, o hospital de Évora, “tanto em termos de diferenciação como de dimensão da população que serve, não reúne os requisitos para desenvolver em pleno a especialidade de cirurgia cardíaca”.
Adicionalmente, “os documentos da Direção-Geral da Saúde sobre a Rede Nacional de Especialidade Hospitalar e de Referenciação de Cirurgia Cardíaca não colocam o hospital de Évora como unidade de referência nesta área, pelo que é totalmente insensato este lugar agora aberto”, sublinham.
A OM lembra ainda que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) já tem sete serviços de cirurgia cardíaca e que “o tratamento cirúrgico seguro e com qualidade dos doentes com patologia cardíaca exige meios técnicos e humanos, em número, diferenciação e pluridisciplinaridade”, acrescentando que “a existência de um serviço jamais poderia ser assegurada por um único especialista nesta área”.
Para a OM, Évora integra um grupo de hospitais que, pela sua dimensão, “não contempla outras especialidades essenciais ao desenvolvimento da cirurgia cardíaca”, como farmacologia clínica, genética médica, cardiologia pediátrica, cirurgia pediátrica e cirurgia cardiotorácica.
“A abertura de um serviço de cirurgia cardíaca exige uma população superior a um milhão de habitantes para garantir que a equipa acompanha um número de doentes suficientemente elevado para manter a experiência essencial para uma resposta com qualidade”, sublinha a organização em comunicado.
Além disso, a OM considera a decisão “grave” e diz que deve ser “corrigida com urgência”, tendo já questionado o Ministério da Saúde para perceber o que está na base da decisão, lembrando que esta “não garante a qualidade a que os doentes têm direito, nem serve a gestão estratégica do capital humano do SNS”.
Fotografia de brailecardio.com.br