1 Abril 2023      23:33

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Melodia leve

Bem sei que 1 de abril é o dia das mentiras. Sei também que quase todos já ousámos fazer piadas e enganar aqueles próximos com alguma notícia enganadora ou uma mentira inocente.

Houve já casos em que essa brincadeira, amplamente divulgada por órgãos de comunicação social se tornou virar e afetou a vida de muitos que acreditaram na falsa verdade, ou seja, na mentira.

Também, ainda neste campo, a semântica é enganosa. Tantos já tentaram substituir, numa melodia leve, a palavra mentira por inverdade. Mentiras, por muito piedosas que sejam, não são inverdades. São mentiras! Até se pode tentar dourar a pílula, fazer o pino, dizer a mentira milhares de vezes, mas os factos não mudam. Bem, talvez mudem com as novas tecnologias, com a falsificação do real e com uma inteligência que, lentamente, se prepara para suplantar a existente, com a sua concordância.

Porém, à semelhança de outras, este texto não pretende assumir um caráter negativo, muito menos discutir assuntos da atualidade que podem gerar conflitos ou impedir consensos.

Pretendo, hoje, simplesmente, contar a história de alguém, uma pessoa, género indiferenciado, que todos os dias mentia. Não dizia inverdades, mentia mesmo!

Todos os dias, era mais forte do que a pessoa, chegava e dizia um chorrilho de mentiras a toda a gente. Essas mentiras eram, no entanto, ditas de forma suave como uma melodia leve. De facto, as mentiras assim ditas são a forma em como melhor nelas acreditamos. O seu nome era desconhecido, isto porque cada vez que lhe perguntavam dizia um diferente. Ninguém até ao presente dia sabia o seu nome e, não o sabiam porque acreditaram até determinado momento na sua melodia leve e, quando deixaram de acreditar, aquele som sibilante das suas palavras e frases se tornou algo absurdo e desconexo da realidade.

Melodia leve não convencia ninguém. Dia após dia mudava de lugar, falava com pessoas novas, na esperança que alguém acreditasse em si. Já ninguém acreditava. Nem aqui, nem na China.

Tenhamos pena de Melodia. A sua realidade era muito mais pesada que cada uma de nós, imaginemos viver a tentar convencer alguém todos os dias da nossa vida e ninguém acreditar em nós. Podemos dizer a maior verdade do mundo, que nunca seremos levados a sério.

Isto mesmo também acontecia com a nossa personagem Melodia leve que, por forças maiores nunca dizia a verdade. A sua realidade era tão paralela como a de tantos outros…

Porém, num dia específico do ano, tudo o que lhe saia da boca ou era transcrito pelos dedos era verdadeiro! Não dizia uma única mentira nesse dia!

O seu grande azar, na sua leve Melodia, é que esse dia era o dia de hoje, 1 de abril, e por mais que falasse a verdade, ninguém acreditava numa única palavra.

Era quase como a história do Pedro e o Lobo, mas como uma duração espacial e temporal muito superior! Ah, e já agora, pediu-me que vos contasse um segredo. Talvez ele seja o único vencedor do Euromilhões e do Powerball em simultâneo.

Isso, meus caros leitores, em dia de verdade que é o dia da mentira, nem eu acredito… mas eu também não jogo.