16 Março 2023      15:08

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Cartuxa teve o melhor ano de sempre sem aumentar preços

O ano de 2022 foi o melhor de sempre na história da Adega da Cartuxa, resultados alcançados sem o aumento dos preços.

“Não subimos os preços”, assegura ao jornal Expresso João Teixeira, diretor comercial da Cartuxa, que afirma representar 10% das exportações dos vinhos do Alentejo e que foi recentemente considerado o produtor da Europa que mais vendas efetua no Brasil.

O ano passado terminou com 23,8 milhões de euros em vendas, com Portugal a representar 60% deste valor. Os números alcançados representam também um crescimento de 18% em relação a 2021, que tinha sido, até ao momento, o melhor ano desta adega, impulsionado pelo lançamento do vinho Pêra Manca (colheita de 2015), combinando uma subida de 34% em Portugal e de 13% lá fora.

No maior mercado internacional da empresa, o Brasil, houve um aumento de 18% nas vendas, que subiram para 5 milhões de euros. Sobre este mercado, João Teixeira adianta ao semanário que a Cartuxa “conseguiu estar presente em todos os estados do Brasil, com uma rede de 6 mil clientes, e tornar-se o produtor europeu que mais vende no país, atrás de dois concorrentes do Mercosul, do Chile e da Argentina, que entram sem pagar as taxas alfandegárias dos vinhos nacionais”.

A empresa, “cresceu 18% em contraciclo”, uma vez que, de acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) e da Viniportugal, houve, em 2022, uma queda de 3,5% nas vendas dos vinhos portugueses no Brasil, refere o responsável, que acrescenta que, no ano de 2019, a Cartuxa ainda não se encontrava entre os cinco maiores fornecedores daquele país.

Apesar de admitir alguma pressão nas margens, causada pela inflação, João Teixeira vinca que não houve subida dos preços, até porque grande parte dos vinhos “são de estágio e os materiais já estavam adquiridos”, o que significa que “qualquer aumento teria sido especulativo”.

Sobre o desempenho de 2022, o gestor refere que este reflete “a experiência definida em 2018”, ano em que começou a trabalhar na Fundação Eugénio de Almeida (FEA), proprietária da Adega da Cartuxa, com o propósito de “conciliar abordagem e agendas da área comercial e da produção”, fazendo uso da sua experiência adquirida numa empresa multinacional de grande consumo. 

Desta forma, de acordo com a estratégia definida, o principal foco passou a ser a relação direta com os clientes da moderna distribuição e a estabilidade dos preços dos vinhos. 

“Percebemos que o consumidor estava a escolher o nosso vinho de entrada de gama em função do preço e que as vendas aumentavam quando havia promoções agressivas na distribuição”, afirma João Teixeira, que considera que essa opção acabava por não beneficiar a marca. Assim sendo, foi buscar inspiração a outros setores de atividade e optou por uma abordagem direta, que dispensa a intervenção de intermediários, de forma a que ficassem asseguradas as vendas ao longo de todo o ano e que a escolha dos consumidores fosse feita em função da marca, e não do preço.

A estratégia adotada para o canal Horeca (hotelaria e restauração) foi, no entanto, distinta, uma vez que inclui um distribuidor, embora os objetivos continuem a ser a estabilidade dos preços e a procura de valor. A utilização do serviço de um distribuidor é justificada pelo peso do canal nas vendas nacionais (55%) e pela dificuldade de o trabalhar de uma forma direta.

Para além do Brasil, a Cartuxa está também focada noutros mercados relevantes para a empresa e nos “destinos naturais para uma proposta assente na valorização dos vinhos”, como os Estados Unidos da América, o Reino Unido e a Europa, passando o objetivo por conquistar consumidores nativos.

Foi através deste foco que a Cartuxa chegou a 39 países de forma direta e a muitos outros de forma indireta, colocando os seus vinhos em mercados do sudoeste asiático através do parceiro de Macau e nas Caraíbas através dos Estados Unidos da América.

O ano de 2023 marca o 60.º aniversário da FEA, que se tem dedicado ao longo do tempo ao desenvolvimento da região eborense. Para este ano, a empresa mantém uma perspetiva positiva, fortalecida pelo bom arranque que se verificou. Embora João Teixeira admita que existe a possibilidade de haver uma mudança no consumo de vinho, privilegiando-se as gamas de preços mais baixos, a confiança na marca e nas exportações continua forte.

Agora, a ideia é “puxar pelo volume”, especialmente nos diversos mercados que já contam com a presença da marca, de forma a promover o crescimento, após a estabilidade dos preços que determinou a manutenção do número de vendas dos rótulos até ao ano de 2020, altura em que surgiu a pandemia de Covid-19, que teve um forte impacto no canal Horeca e deu origem a uma descida de 16% no volume de negócios da adega.

O gestor assume que poderá ter de ser ajustado o preço dos vinhos comercializados em caixas de madeira, “por ser insustentável continuar a suportar o aumento dos custos associados”.

A Adega da Cartuxa conta atualmente com mil hectares de vinha. Destes, 600 hectares são vinhas próprias e 400 são vinhas arrendadas, em Évora. Por ano, são engarrafadas na Cartuxa, em média, 5,5 milhões de garrafas, de 7 marcas e mais de 30 referências, que incluem vinhos de talha, espumantes e licorosos. Do portfólio, fazem parte a Pera Manca, que corresponde a 2,5 milhões de euros da faturação, a EA, que se destina a maiores volumes, a Cartuxa, que é a marca mais antiga da empresa, e a Monte dos Pinheiros, que é a opção na entrada de gama, situando-se o intervalo de preços destas propostas entre os 2,69 e os 500 euros.

Cerca de 95% do rendimento da FEA é proveniente dos vinhos, que contam com as castas Trincadeira e Aragonês e Antão Vaz e Roupeiro como dominantes nos tintos e nos brancos, respetivamente.

Contudo, a fundação tem também 200 hectares de olival nos seus 13 mil hectares de terreno, onde desenvolve outras atividades, tais como a produção de cereais, de amêndoa ou de cortiça e a criação de gado.

O enoturismo tem também vindo a ser uma aposta da Cartuxa, que considera esta área importante para a promoção das exportações e das vendas e que tem visto o número de visitantes subir: recebeu 19.000 visitantes em 2019 e mais de 21.000 no ano passado.

A empresa encontra-se também na internet, de forma a estar mais próxima dos seus consumidores, mas adotou um preço superior ao do mercado, de forma a não rivalizar com os clientes.

A edição deste ano do Festival EA Live, que se realiza na Quinta de Valbom, também já está a ser trabalhada e vai decorrer entre os dias 14 e 22 de julho.

Este festival tem como objetivo fomentar a ligação entre as áreas da cultura, da música e do vinho.

 

Fotografia de cartuxa.pt