25 Maio 2024      10:07

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Alentejo recebe 20ª edição do festival de música erudita Terras Sem Sombra

José António Falcão, director do Festival Terras sem Sombra
José António Falcão, director do Festival Terras sem Sombra

Concertos, visitas ao património e ações de sensibilização ambiental “marcam” o programa da 20.ª edição do festival de música erudita Terras Sem Sombra, que vai decorrer até novembro no Alentejo e tem Itália como país convidado.

O festival Terras Sem Sombra, organizado pela associação Pedra Angular, com sede em Santiago do Cacém, vai permitir ao público “a possibilidade de escutar repertórios ainda pouco conhecidos e artistas que estão a marcar a diferença no plano internacional”, disse à agência Lusa o presidente do evento, José António Falcão.

Segundo este responsável, “a programação desenhada para este ano é deveras promissora, neste alargar de horizontes, desde a música antiga até ao âmago da criação do século XXI”.

“Rompe com as rotinas do nosso quotidiano, lança reptos para compreender melhor a sociedade atual e traz uma lufada de ar fresco”, acrescentou.

A 20.ª edição do festival arranca neste fim de semana em Mértola (Beja), onde está previsto um concerto das sopranos filipinas The Nightingales, acompanhadas ao piano pelo maestro português Nuno Margarido Lopes, na igreja matriz, a partir das 21:30 de sábado.

A programação do festival, de acesso livre, vai ainda passar pelos municípios de Beja, Ferreira do Alentejo, Odemira e Vidigueira (todos no distrito de Beja), Castelo de Vide (Portalegre), Montemor-o-Novo (Évora), Sines (Setúbal) e Coruche (Santarém).

“Estão ainda previstos dois ‘concertos-surpresa’ noutros concelhos, a anunciar oportunamente”, anunciou José António Falcão.

Os concertos vão contar “com a participação de alguns dos mais destacados ‘ensembles’ da atualidade”, continuou o presidente do festival, destacando o I Bassifondi, sob a direção de Simone Vallerotonda, o Arianna Art Ensemble, o Akhtamar Quarteto, o EntreQuatre, o Quartetto Veneziano, o Aratos Trio e o Le Fil Rouge.

“Uma presença a realçar, no campo da música sinfónica, é a da Orquestra de Siero, das Astúrias [Espanha], sob a direção de Manuel Paz”, acrescentou Falcão.

O programador apontou ainda os recitais do baixo-barítono checo Lukáš Bařák, acompanhado pela pianista Vendula Galdov, e da harpista austríaca Elisabeth Plank como “outros momentos altos da temporada”.

Em 2024 o festival Terras Sem Sombra tem como tema “‘Liberdade, quem a tem chama-lhe sua’: Autonomia, Emancipação e Independência na Música (Séculos XII/XXI)”, para motivar uma reflexão sobre o “acesso à cultura e, em particular, à música” 50 anos depois do 25 de Abril.

“Poder escrever, interpretar ou simplesmente escutar certas obras musicais representa algo que não era líquido, em absoluto, para quem viveu antes da democracia”, mas “meio século depois ainda não passou a sê-lo para muitos dos nossos cidadãos, por falta de ocasiões objetivas de acesso à fruição cultural”, justificou.

O evento assinala também este ano o seu 20.º aniversário, sendo, na opinião de José António Falcão, “um caso transversal de serviço público”.

“Cumpridos 20 anos na história do festival, conquistaram-se públicos, criaram-se hábitos culturais e romperam-se obstáculos”, disse, afirmando que existe hoje “um Alentejo muito diferente no que respeita à fruição da música erudita”.

Ainda assim, o festival perdeu, em 2023, o financiamento da Direção-Geral das Artes, no âmbito da falta de financiamento dos concursos bienais do programa de apoio sustentado, situação que levou a Pedra Angular “a procurar apoios noutras latitudes”.

“Mas a interrupção do apoio do Estado fez perder muito tempo, não ajudou à manutenção da infraestrutura artística nacional e teve consequências severas para o Alentejo, onde não existiam grandes alternativas”, criticou José António Falcão.

O responsável acrescentou que foi também “necessário reduzir o leque de concelhos abrangidos e adiar a consolidação de uma equipa profissional”.

“Mas o que mais sacrifícios implicou foi o atraso das iniciativas destinadas à captação de novos públicos”, tendo sido “necessário reduzir o trabalho com os mais novos, as famílias e as comunidades migrantes”, concluiu.

 

Imagem de Terras sem Sombra / Facebook