5 Agosto 2023      10:33

Está aqui

O centro

Quem vivia marginalizado naquela terra imaginária nunca tinha ido ao centro. Quem vivia nas pontas do lugar do mundo onde reinava a fome, nunca tinha ambicionado conhecer o centro. Talvez por não conhecer nem o centro nem os que lá viviam. Essa realidade era absolutamente irrelevante para as periferias.

Lisboa talvez seja hoje e amanhã e depois, talvez tenha sido durante esta semana o centro deste mundo, da espiritualidade, da fé. Numa mensagem que se ecoa e tem ecoado nas últimas horas, a inclusão, todos, todos, todos.

Aqueles que vivem nos antípodas são convidados a Lisboa, que é de forma figurada, o centro.

Quem vivia na ponta mais leste, nunca tinha ouvido os gritos, os risos, os choros, as gargalhadas do oeste, do norte, do sul. Quem vivia em qualquer um dos outros pontos cardeais, igualmente desconhecia.

Aliás, nem no centro os que lá moravam tinham a noção próxima ou distante daquilo que eram as pontas perdidas de cada um deles. O centro é tudo e é nada!

É importante, todos os dias na nossa vida fazer uma reflexão, íntima, completa, profunda. Porém essa só a podemos fazer com os instrumentos que temos. E aqueles de que dispomos são apenas os que conhecemos. Não usamos os desconhecidos talvez por medo, talvez por falta de iniciativa.

O centro é o meio, e o meio é o lugar onde se juntam os opostos. Cada vez que cada um de nós, que vive no anonimato, que vive na ponta mais longínqua de um sítio desconhecido, se aproxima mais um pouco do meio, que é o centro, o núcleo, o magma, desbrava um pouco mais do dogmatismo que nos cega.

Talvez quando os que se desconhecem do norte, do sul, dos lestes e dos oestes, nas suas discordâncias, finalmente utilizarem a linguagem para se contactarem no centro, para se comunicarem, o centro seja o mundo todo, redondo como ele é. Sem periferias, sem desigualdades, em harmonia.