20 Maio 2023      12:38

Está aqui

A menina triste

Era uma vez, num país imaginário que nunca tinha existido. Era uma vez, num sítio longínquo, um povo imenso e desconhecido.

Nesse país cheio de riquezas, de uma natureza tão maravilhosa e diversa, vivia a única pessoa que não partilhava dessa felicidade de todos. Toda a gente sorria, toda a gente se sentia verdadeiramente feliz. Eram dessa forma porque nunca tinham conhecido a infelicidade, nem a dor.

Nunca tinham perdido ninguém. Não havia hospitais porque não havia ninguém que ficasse doente. Não havia carros, por isso nunca tinha havido acidentes. As pessoas só tinham conhecido a pura felicidade. Ou seria assim tão pura se nunca tinham visto o oposto, o reverso.

Além de tudo o mais, o que lhes interessava era continuar na sua rotina, nos seus momentos felizes e descontraídos de quem não tem preocupações.

A natureza continuava lindíssima do alto do Sol, o paraíso era aquele, tal como tinha sido imaginado para Adão e Eva. Nada estava fora do lugar ou errado naquele quadro. Os riachos corriam e jorravam águas cristalinas e puras tão frescas que a própria ideia da vontade de as beber.

As árvores de fruto eram tão perfeitas como se saídas de uma revista de publicidade. Tudo era alinhado e sem mácula. As casas eram também construídas de uma forma tal que a mais pequena parecia uma mansão e habitada pela realeza.

Os que bebiam a água, comiam as frutas e viviam naquelas casas eram felizes… não havia em nenhum deles uma ponta de remorso, ou tristeza… bem, havia uma exceção. Tenho de ser verdadeiro. No meio de tudo o que compunha aquele lugar paradisíaco, vivia uma família feliz… talvez a mesma que deu o nome ao famoso prato chinês. Ou talvez não.

A particularidade dessa família, além de ser composta por muitos filhos, era que todos eles eram gémeos. Tinham 7 filhos. Entre esses 7, 6 eram gémeos. Eram mesmo idênticos entre si, como se tivessem sido tiradas fotocópias.

Os pais orgulhavam-se de ter a sua prole feliz e especialmente a dobrar e do seu lado.

Porém, no seio dessa família numerosa, a filha mais nova nascera sem par gémeo. Estava sozinha e isso mudaria a história para sempre.

Na terra feliz, onde toda a gente o era, a menina mais nova do casal era e estava triste.

A sua tristeza de não conseguir brincar com os irmãos, de se sentir abandonada, fazia dela a menina triste num monte de felicidade.

Quando o tempo estava radiante, sem nuvens, a área que rodeava a menina triste parecia uma nuvem escura, como aquelas que vemos nos filme. Onde ia a menina triste, ia a chuva e a e tempestade.

Um dia, acossada por todos, protetores da felicidade, com medo do desconhecido, menina triste levou a chuva para a montanha mais alta, atirando-se lá se cima, para todos os lugares.

A menina triste deixou de o ser, porque deixou de existir. E nesse mesmo dia, todos os que somente acreditavam na felicidade, conheceram nas gotas de água, que eram lágrimas da menina triste, o que vale a felicidade quando nunca se conheceu outra coisa a não ser a tristeza.