8 Julho 2023      09:40

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As melancias este ano vieram mais tarde

Estávamos no início de julho e toda a gente começava a sentir o calor do mês. Especialmente no Alentejo o tempo tem estado assim como que a modos de tomar umas águas de Monchique frescas e comer uns arjamolhos com umas pedras de gelo para refrescar.

Debaixo das figueiras ainda se apanha o fresquinho, ainda se pode dormir uma folga daquelas à antiga. Para quem se levanta às 5 da manhã, começa a trabalhar na horta ou na feira às 6, aquela hora de maior calor é o momento em que o descanso é pedido.

Tinham semeado tudo a tempo. Olhavam para as luas, no calendário ou no Borda D’Água, onde dizia em que dias se podiam semear as tomateiras, os pepinos, os melões, as melancias, as alfaces, as courgettes. Desde o dia em que semearam, com a arte antiga, todas as sementeiras foram cuidadas meticulosamente. É assim que se faz com as plantações. As árvores de fruto são uma história diferente. Embora, devo dizer o que me delicia ver as árvores de fruto que, nesta altura do ano, nos oferecem todo o produto do mesmo crescimento. Estas árvores são os pessegueiros, as ameixeiras, e outros afins cujo fruto é tão delicioso como a própria ideia dele.

Gosto de ver as fotografias.

Este ano, as melancias vieram mais tarde. Ninguém sabe muito bem porque se passou assim. O homem que plantou as sementes, deitou todas na terra ao mesmo tempo, mas no monte apesar de tudo ter sido semeado ao mesmo tempo, as melancias vieram mais tarde.

Os tomates, as alfaces, os pepinos e até as cebolas vieram a tempo de fazer o belo arjamolho. O peixeiro, às sextas, passava com todo o tipo de peixe. Bem, não todo, mas a sardinha, o carapau, besugo, dourada, algumas vezes chocos e lulas.

Comprava-se de manhã e punha-se um bocado de sal do mar. O que melhor para acompanhar? Senão uma bela salada orgânica? Naquele alpendre, debaixo daquela figueira e das outras árvores, tão felizes que eram, comendo da mesma tigela, bebendo aquela água vinda da fonte. E o vinho! O vinho era excelente.

No verão, a família vinha e juntava-se. Sentavam-se todos à mesma mesa, na rua, sem ar condicionado, lembrando tempos ainda mais antigos.

E terminada a refeição, apareciam na mesa as ameixas, os pêssegos, os damascos e umas fatias de melão.

O mais novo da família, de repente coleciona chorar, ninguém sabia porquê… a mãe bem lhe perguntava. Insistia.

A criança chorava e, por fim, todos perceberam que lhe faltava alguma coisa. A criança queria melancia. Não havia. A sorte seria que o homem da mercearia trouxesse melancias, porque no monte, as melancias este ano vieram mais tarde. Assim acontece, mas que vão chegar, isso sim, sejam raiadas ou das outras.