14 Outubro 2023      11:03

Está aqui

Évora: Alentejo rural preocupado com fuga de alunos para a cidade

O presidente de uma junta de freguesia rural de Évora reclamou uma solução para alegadas falhas no funcionamento da escola da aldeia, por falta de professores, afirmando temer o seu encerramento “mais ano menos ano”.

“Temos feito tudo, ao longo dos anos, para inverter a situação de termos cada vez menos alunos”, mas a escola está “sempre à beira de um dia fechar”, lamentou à agência Lusa o presidente da Junta de Freguesia de Nossa Senhora de Machede, José Vitorino Piteira.

Neste ano letivo, um total de 17 alunos frequenta diferentes anos de escolaridade do 1.º ciclo na Escola Básica de Nossa Senhora de Machede, no centro desta aldeia, com cerca de 1.000 habitantes e situada a quase 20 quilómetros de Évora, sede do concelho.

Segundo o autarca, eleito por um movimento independente, “todos os anos, os professores são colocados, tarde e a más horas, na escola da freguesia”, o que faz com que as aulas comecem mais tarde do que o previsto no calendário escolar.

Este ano, relatou, a professora colocada na escola de Machede “entrou no dia 20 [de setembro], fez 12 dias de aulas e teve que pôr baixa para apoio familiar”, levando à interrupção das atividades letivas e a que os alunos tivessem de ficar em casa.

“E o agrupamento não teve como substituir esta professora para que os alunos tivessem escola”, lamentou.

Contactada pela Lusa, uma fonte do Agrupamento de Escola André de Gouveia, a que pertence a escola de Machede, explicou que só é possível proceder à substituição do docente se a baixa for por um período mínimo de 15 dias.

Neste caso, a professora faltou quatro dias e volta a lecionar na próxima segunda-feira, realçou a fonte, sublinhando, ainda assim, que, agora, também “não há docentes disponíveis no agrupamento que possam fazer essa substituição”.

A mesma fonte assinalou que, se esta escola tivesse 19 alunos, já seria possível ter duas turmas a funcionar e, assim, em caso de baixa de um dos docentes, um professor de atividade moderada, que pode ficar com cinco alunos, faria a substituição.

Nas declarações à Lusa, o presidente da junta alegou que, perante a atual situação, torna-se difícil “cativar os pais a inscreverem os filhos na escola da freguesia”, pelo que “metade das crianças vai para as escolas da cidade” de Évora.

“Isto vai levar a que, um dia, mais ano menos ano, a escola feche”, sentenciou.

José Vitorino Piteira disse acreditar que, “se houvesse uma boa gestão”, a Escola Básica de Nossa Senhora de Machede não teria os atuais 17 alunos, mas sim “30, o que permitiria até ter os dois professores”.

A junta de freguesia “tapa as falhas” quando faltam funcionários e oferece os lanches às crianças, alegou José Vitorino Piteira, indicando que a autarquia “só não pode contratar os professores”.

“Não sei se, no Ministério da Educação, o objetivo é fechar as pequenas escolas e as escolas das freguesias e juntar todos [os alunos] em polos grandes, mas, se for, vai promover o despovoamento das freguesias rurais”, avisou.