2 Outubro 2015      18:00

Está aqui

MIGUEL SANTOS

TRIBUNA ALENTEJO (TA) - Porque é que aceitou candidatar-se à Assembleia da República?

Miguel Santos (MS) - Todos nós pelo menos uma vez, ou outra, na vida tivemos uma crítica para com "eles", "os políticos", e a sua aparente incapacidade de se relacionarem com as necessidades das pessoas e dos territórios onde se inserem. Noventa e nove por cento dos filiados em geral e dirigentes do PAN nunca tiveram actividade política na sua vida adulta e chegam agora à política por imperativo de consciência e com espírito de missão para que o caminho suicidário que a Humanidade está a trilhar possa ser revertido, começando pelo nosso próprio País. Atendendo à necessidade de divulgar a mensagem do PAN nos vinte e dois círculos eleitorais, é fácil concluir que todas as pessoas são necessárias neste propósito, e tendo eu alguma experiência das lides políticas por via do meu trabalho de Deputado Municipal em Lisboa, não poderia de forma alguma faltar a esta chamada.

 

TA - Que diferenças existem entre esta candidatura e as restantes?

MS - Todas as candidaturas refletem de alguma forma a mundivisão de partidos e candidatos. Nós, no PAN, acreditamos que é altura de todos nos focarmos naquilo que nos deve unir, a junção de todos, inclusive de todos os partidos em favor do Serviço ao próximo perante o potencial de destruição que já está instalado no Planeta, e de que muitos de nós não nos apercebemos. Quando numa aldeia o fogo avança para cima das casas, não é altura de os vizinhos discutirem uns com os outros, mas sim de se unirem e salvarem a comunidade. O nosso problema é que o fogo na nesta analogia é invisível para a maioria arriscando as pessoas serem queimadas vivas de forma totalmente inconsciente. É por esta razão que a nossa actividade de campanha se tem focado em promover actividades que possam conscientizar as pessoas sobre os problemas que afligem todos nós e daí o nosso slogan "A causa de todos". Não defendemos interesses particulares ou de "classe" mas sim o interesse de toda a Humanidade e todos os Portugueses em particular. Precisamos de renovar o sistema Político e por isso renovámos a nossa própria casa tendo criado no PAN um sistema horizontal de Assembleias. É altura de não delegarmos todo o poder de decisão em representantes que nem sempre têm sido bons intérpretes do Bem Comum.

 

TA - No seu entender, quais são os pontos fortes e fracos do Alentejo?

MS - Desde o início da nacionalidade e mesmo anterior a isso, o Alentejo tem sido uma terra generosa para com os seus habitantes. Erros de gestão de recursos naturais e humanos levaram a alguns desastres com consequências que perduraram. O abandono do Alentejo por parte das suas gentes tem sido consequência desses erros e devemos fazer tudo para que esta terra rica em recursos, possa finalmente dar um futuro a todos os seus filhos. Apesar dos diversos escolhos, o Alentejo conseguiu desenvolver ao longo da história, um património cultural riquíssimo que deve ser preservado como memória da Alma que é. Mas o principal património são as suas gentes que temos que conscientizar e empoderar. Quando tal ocorrer, os alentejanos poderão evitar que outros cometam os erros de que falámos e que têm tido consequências históricas.

Ninguém duvida que a proximidade da água é proporcional à densidade das concentrações humanas e neste aspecto Alqueva foi uma bênção que deverá ser correctamente estimada e criteriosamente utilizada, desenvolvendo novos e vibrantes ecossistemas. Mas nem só de Alqueva pode viver o desenvolvimento hídrico do Alentejo. Para além de Alqueva não alcançar todo o Alentejo, o próprio Alqueva está demasiado dependente da água que lhe chega em termos de quantidade e qualidade.

Urge desenvolver a capacidade hídrica endógena do Alentejo utilizando técnicas da Permacultura que têm permitido "verdificar" das zonas mais inóspitas e desérticas do Planeta criando novos microclimas em zonas hoje atingidas duramente pela desertificação como seja a zona de Mértola.

Outro aspeto que é infelizmente um ponto fraco, é a falta de via-férrea transversal no Alentejo. A via-férrea Alentejana, tem que passar a ser uma prioridade de mobilidade intermunicipal ao invés de ser uma forma de chegar de Évora e Beja a Lisboa. Aquilo que existe no Algarve e no litoral duma forma geral tem que ser uma prioridade de infra-estruturação se queremos realmente impedir a desertificação humana e fomentar o retorno à terra. Ligar por via-férrea eletrificada Mértola a Nisa, passando pelas principais cidades e localidades deverá ser a opção de um futuro sustentável desejável para garantir a mobilidade sustentável para uma era pós petróleo.

 

TA - Ainda se justifica utilizar os termos “esquerda” e “direita” em política?

MS - Esses termos estão de tal forma contaminados devido às distorções históricas que se calcificaram pela vitória (temporária) deste capitalismo bulldozer capitaneado pela Banca e pelos "mercados financeiros" que só um novo paradigma de pensamento, poderá "resolver" esta questão. Neste momento em que ditos governos de esquerda ou de direita, praticam as mesmas políticas com ligeiras variações cromáticas e de ênfase, é mais útil distinguir as políticas entre, as que contribuem para o bem comum e do planeta, e as que são dirigidas exclusivamente para a defesa de interesses particulares. Se isso virá ou não a ser a nova definição de esquerda e direita, não sabemos, mas neste momento ainda não é, pelo que nos devemos abster de utilizar designações sem sentido para o momento presente.

 

TA - Portugal virado para a Europa e para a União Europeia, ou não?

MS - Cada vez mais creio que essa questão tem que deixar de ser dicotómica. Estamos cada vez mais globalizados e devemos estar também cada vez mais "localizados". Priorizar o que nos está próximo será cada vez mais uma obrigação de sustentabilidade e consciência. Um novo paradigma só poderá ser atingido se formos cuidando e transformando a nós próprios e aos que nos estão próximos. De seguida virá o nosso País, a Europa, os nossos países historicamente irmãos, e toda a restante Humanidade.

 

TA - Regionalização: sim ou não?

MS - A resposta é claramente sim, existem matérias que têm que deixar de ser geridas pelo ângulo de visão da Capital e passar a ter um olhar de maior proximidade relativamente aos problemas regionais e locais. Não pode é ser mais uma estrutura de poder intermédia destinada a satisfazer exclusivamente as clientelas partidárias e os protagonismos pessoais. Foi essa a razão pela qual os portugueses já rejeitaram em referendo a regionalização, e se estes aspectos não forem corrigidos no sentido do Bem Comum, voltará a ser rejeitada.

                                                                                                                                                     

TA - Se pudesse fazer um só projeto pelo seu círculo eleitoral, qual seria?

MS - Provavelmente teria que ser feita uma avaliação rigorosa do que maximizaria o Bem Comum dando esperança às pessoas num mundo melhor para não abandonarem o território. Posso apenas ter uma ideia sobre o resultado desta análise, mas o meu sentimento neste momento vai no sentido de corrigir as questões da gestão da água atrás referidas e levá-las a todos os municípios do Distrito de Beja.

 

TA - Como vê o Alentejo em 2020?

MS - Vejo um Alentejo mais afirmativo, mais consciente do que pode vir a ser, se os seus verdadeiros interesses passarem a ser prioritariamente defendidos. Um Alentejo com maior mobilidade, ligado por ferrovia electrificada, por electricidade proveniente de energias renováveis e em que não existam vilas totalmente isoladas, como que desterradas.

Vejo um Alentejo mais verde, com o aproveitamento de todos os recursos hídricos, transformado pela Permacultura onde se desenvolve a agricultura biológica, garantindo a todos os Alentejanos alimentos e água saudáveis que evitem a maior parte das doenças que conhecemos actualmente.

Vejo um Alentejo mais compassivo, em que espectáculos baseados no sofrimento alheio como a Tauromaquia, desapareçam de vez substituídos por novas tradições locais que nos projectem para um futuro de irmandade sem sangue e violência para com os animais, e em comunhão com a natureza.

Numa palavra, vejo um Alentejo mais consciente e mais feliz onde todos vão ter gosto em viver e para onde muitas pessoas do litoral se vão querer estabelecer.