24 Maio 2024      10:40

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Inteligência Artificial vai permitir ‘ver’ interior do mármore

O Instituto Superior Técnico (IST) e empresas do setor do mármore no Alentejo estão a criar um digitalizador que, com recurso à Inteligência Artificial (IA), vai permitir ‘ver’ o interior dos blocos e prever as cores e os desenhos das chapas a serrar.

Esta ferramenta, que se destina ao setor nacional da pedra natural e que está a ser criada pelo Departamento de Engenharia de Recursos Minerais e Energéticos (DER) do IST, é um “digitalizador de blocos de mármore até 25 toneladas”, que “através de IA, vai permitir prever a textura interior” desses blocos, “antecipando as cores e os desenhos dos veios que as placas poderão apresentar depois de cortadas”, divulgou o IST, em comunicado, citado pela agência Lusa.

“Esta funcionalidade irá revolucionar o mercado global do mármore, colocando na vanguarda mundial os grupos empresariais portugueses que nele competem”, afirmou. 

Por agora, o trabalho está a ser desenvolvido “à escala laboratorial” na fábrica do Grupo Galrão, em Pero Pinheiro, no concelho de Sintra, mas com duas pedreiras de mármore situadas na região do Alentejo, uma do concelho de Estremoz e outra de Pardais, no concelho de Vila Viçosa.

Este projeto, que conta com financiamento proveniente de fundos comunitários, designadamente do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), inclui também os grupos A. Bento Vermelho e Marmocazi, proprietários de “grandes pedreiras” nessa zona do Alentejo, e duas empresas tecnológicas especializadas em pedra natural.

À Lusa, Paulo Diniz, administrador do Grupo Galrão, adiantou que a fase de testes laboratoriais, que está em desenvolvimento na fábrica da empresa, deverá estar concluída “em 2025”, sendo, posteriormente, o digitalizador de blocos montado nas suas pedreiras.

“Na fábrica, estão a ser feitas fotos de miniblocos e, depois, esses são serrados em minichapas”, que “são fotografadas para forçar o algoritmo a melhorar-se a si próprio, pela experiência”, levando-o “a ficar mais inteligente”, apontou.

Isto significa que “o que está a ser desenvolvido é um sistema que vai prever o que está dentro de cada bloco” de mármore, antes ser preciso serrá-lo.

O responsável salientou que “a finalidade” é proceder à aplicação deste sistema à escala industrial, ou seja, fotografar as faces dos blocos de mármore nas pedreiras e, “utilizando um algoritmo de inteligência artificial, tentar prever como é que as chapas vão sair”.

“Portanto, é saltar aqui um passo, porque, hoje em dia, nós só temos a certeza disso depois de serrar o bloco”, avançou.

Paulo Diniz revelou ainda que o objetivo é, “a partir de 2026, ter esta tecnologia a funcionar para o mercado” e defendeu que esta ferramenta vai tornar possível “poupar matéria-prima e ter menos desperdícios” nas pedreiras.

“O mármore português tem uma variação muito grande e há sempre surpresas. Hoje, fazemos este trabalho pela experiência e corremos um risco, mas, se tivermos uma ferramenta que nos ajude a ter um grau de certeza maior, vai permitir-nos serrar com a certeza de que [a pedra] serve para aquele trabalho”, destacou.

Este digitalizador, que “para as pessoas comuns pode ser descrito como um ‘raio-X’ a cores das pedras", vai ainda permitir “pegar no ‘stock’ imenso” de pedra que existe nas empresas e “transformá-lo num ‘stock’ virtual de chapa, sem necessidade de serrar os blocos”.

“Podemos prever o que vai sair desses blocos e criar um catálogo virtual que, através da Internet, será fácil de disponibilizar ao mercado mundial”, acrescentou.

“Como o padrão visual das placas depende do lado pelo qual se começa a cortar a pedra”, esta simulação digital “irá permitir visualizar, com precisão, toda a variedade de padrões diferentes que pode ser obtida a partir de um só bloco”, disse, em declarações à Lusa, Gustavo Paneiro, investigador e docente do DER do IST.

Assim, todos os clientes das empresas nacionais de pedra natural, “sejam eles arquitetos, decoradores ou consumidores finais”, vão ter a possibilidade de ter “à sua disposição milhares e milhares de padrões num catálogo virtual” e “será a sua escolha que irá determinar exatamente a forma como cada bloco será cortado”, afirmou, argumentando que esta funcionalidade “tornará as empresas parceiras do Instituto Superior Técnico muito mais eficientes e, por isso, competitivas no mercado mundial da pedra natural”.

 

Fotografia de rr.sapo.pt