5 Fevereiro 2022      12:41

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A gota de água

Misturada entre tantas outras gotas de água, um número incomensurável de H2O que não se distinguia entre si. No ribeiro onde estava, a gota de água não era singular, não de diferenciava em nada das restantes gotas de água. Apenas uma entre tantas outras gotas que se juntavam para ser mais fortes e se transformavam num corpo sólido.

No ribeiro em que estas se encontravam, uma pequena, e em nada diferente das outras gotas, decidiu ganhar distanciamento das restantes e sair do curso do ribeiro, tornando-se não uma mas a gota de água da nossa história.

Libertada do curso do ribeiro, a gota de água, com os seus pequenos olhos e sem outros membros, conseguia arrastar-se nas suaves ervas que cercavam o ribeiro, deslizando e percorrendo poucas distâncias. A sua altura favorita para percorrer um pouco mais de caminho era à noite ou o início da manhã, quando o sol não tinha ainda chegado ao vale e a gota era uma gelada gota de orvalho.

O seu grande objetivo era afastar-se o máximo possível da corrente, subir ao mais alto ramo das medronheiros ou dos sobreiros que povoavam as encostas daqueles montes. Sabia que um dia seria a primeira a ver o nascer do sol e a brilhar com os raios a bater em si, numa folha bem alta!

Os seus olhos de água alegravam-se com aquela rotina constante de se transformar em orvalho e gelo e voltar a cair e voltar a subir ao topo da árvore e assim, sentia-se útil ao participar de um movimento da natureza e de todo o ecossistema.

Durante alguns meses, a gota de água teve o seu ciclo, sem que esse mesmo fosse em algum momento quebrado. Nesses meses, tudo parecia eterno, tudo se completava, sem alterações.

Um dia, as nuvens cerraram-se num cinzento tão forte, misturadas em trovões e relâmpagos, e deixaram sair de si um turbilhão de gotas de água semelhantes àquela que tentava ser diferente. No seu caminho para o chão e para o ribeiro, vindas do céu em forma de chuva, apanharam a gota solitária e levaram-na consigo. Terminava ali o seu sonho de individualismo e passou, como todas as outras gotas, a fazer parte do corpo maior e da corrente, descendo pelo ribeiro, até ao rio, que por sua vez a levaria até ao mar, trazendo-lhe um sabor salgado mas a esperança de subir às nuvens e voltar a fazer parte de um ciclo que perdurará, tal como a Menina Gotinha de Água.