29 Setembro 2021      10:27

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Falta de investimento em saúde mental no Alentejo é “preocupante”

A falta de investimento em saúde mental no Alentejo é “altamente preocupante”, afirma a psiquiatra Ana Matos Pires, diretora do serviço de Psiquiatria do Baixo Alentejo.

A especialista falava no debate “Descobrir Mentes”, realizado na passada segunda-feira, na Rádio Telefonia do Alentejo, no âmbito de uma parceria entre o Jornal de Notícias, a TSF e a farmacêutica Janssen.

Segundo a TSF, Ana Matos Pires defendeu ainda mais coordenação dos serviços e espera que os 85 milhões de euros previstos no Plano de Recuperação e Resiliência para a saúde mental venham ajudar a resolver um problema crónico.

Também Sofia Tavares, da Associação Sobre Viver Depois do Suicídio, indicou que a falta de meios técnicos é um problema em todo o país, principalmente nas regiões do interior. A psicóloga e docente da Universidade de Évora sublinhou que nos cuidados de saúde primários em Portugal há, em média, 1 psicólogo por cada 40 mil utentes, quando a recomendação aponta para 1 psicólogo por cada 5 mil utentes.

Por outro lado, e ainda sem números concretos sobre o impacto da pandemia na saúde mental no Alentejo, a psiquiatra Teresa Reis, e presidente da MetAlentejo, garante que os pedidos de ajuda dispararam nos últimos meses.

Além disso, o concelho alentejano de Odemira tem uma das mais altas taxas de suicídio do mundo, onde “o número de mortes chega a ultrapassar as 50 por 100 mil habitantes”, diz Sofia Tavares, citada pelo Jornal de Notícias.

Já Ana Matos Pires referiu que “a taxa de suicídio no Alentejo é o dobro da média nacional”: os últimos dados oficiais publicados em 2017 pelo Instituto Nacional de Estatística mostram que, na região alentejana, há 54,2 mortes por suicídio por 100 mil habitantes, contra 22,4 no restante território nacional.

É também no Alentejo que problemas como a depressão, a ansiedade e a demência ganham maior expressão em Portugal. O estado da saúde mental nesta região é, na verdade, uma espécie de círculo vicioso: fatores como as dificuldades económicas, o desemprego, o isolamento, a iliteracia e o envelhecimento, associados à falta de redes sociais de apoio, reclamam um olhar atento.

Sucede que a crónica falta de recursos humanos, sobretudo nas áreas da psicologia e da psiquiatria, associada às dificuldades de acesso aos cuidados de saúde e à falta de “estruturas física decentes”, segundo Ana Matos Pires, não permitem responder eficazmente ao problema.

Teresa Reis acrescenta que “é preciso que, como tem acontecido historicamente, o dinheiro que é suposto vir para a saúde mental não seja, à última hora, desviado para outro lado. Depois, é ainda necessário que as verbas sejam bem distribuídas. As IPSS [Instituições Particulares de Solidariedade Social] que trabalham nesta área não podem ficar fora dessa distribuição”.

Sofia Tavares concorda: “são as IPSS que muitas vezes assumem o papel que cumpre ao Estado. Se assim não fosse, estaríamos num ‘deserto’ ainda maior”, no que diz respeito aos cuidados de saúde mental prestados no Alentejo.

 

Fotografia de jn.pt