10 Maio 2020      10:30

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Ainda o Dia da Europa e o projeto europeu por realizar

No dia de ontem, foi possível assistir a magníficos, inspirados e sedutores discursos dos líderes dos diferentes países, a exortar os princípios e os valores da União Europeia. É curioso que neste altura de crise se apele à coragem e à resiliência dos europeus na luta contra este inimigo comum em forma de vírus, que afetou todos os países e que nos demonstrou grandes fragilidades, do ponto de vista político e sanitário.

A curto prazo, será inevitável, como consequência deste tempo estranho que vivemos, uma grave crise económica.

No entanto, na prática, serão as decisões políticas tomadas até agora eficazes face à recessão e ao desemprego que se avizinham? Na minha opinião, não foram dados muitos sinais de esperança. Tem havido hesitação, falta de estratégia e demasiadas posições antagónicas,quando se pretendiam, mais do que nunca, respostas concretas.

A minha geração foi educada a acreditar na Europa, como espaço de tolerância, de solidariedade e de esperança. Mas, ao escutar as alocuções bem intencionadas dos governantes, é possivel constatar que se tratam meras formalidades para celebrar esta data. Constato isto com tristeza. A bota não bate com a perdigota.

Mais do que nunca, esta pandemia veio demonstrar que os valores solidários, que inspiraram tantos responsáveis europeus no passado, não passam hoje de “letra morta”. Num tempo de crise como o que vivemos, é que o projeto europeu devia exaltar e por em prática as razões que estiveram na sua origem.

E o que vemos? Países a olharem “para o seu próprio umbigo”, querendo deixar para trás outros que foram bastante afetados por esta tragédia, esquecendo completamente que a união devia ser a única forma de debelar este constrangimento. Esta nova ameaça deixou à mostra a insensibilidade de alguns, face à desgraça dos outros.

Talvez esta pandemia seja o prenúncio de uma morte anunciada já há muito, relativamente ao sonho europeu. O futuro não se resolve com palavras bonitas, mas sim com ações concretas. Os europeus não querem um projeto moribundo, mas soluções objetivas para os inevitáveis problemas que irão surgir. Porque se assim não for, e com as feridas que foram abertas com o Covid 19 ( a juntar a tantas outras, como o Brexit), a União Europeia tem os dias contados, por muito que nos digam que não.

E esse desfecho terá como “coveiros” os políticos oportunistas que, apoiados num populismo desmedido e numa estratégia de total demagogia, vão fazer tudo para acelerar esse triste fim, com base em discursos nacionalistas e xenófobos. Cabe aos dirigentes que acreditam no projeto europeu resolver os futuros desafios, de uma forma conjunta e baseada nos ideais que inspiraram a sua criação.