22 Outubro 2019      12:25

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O Jogo Tradicional Alentejano como mudança de paradigma pedagógico em contexto educativo

“Estamos numa situação caótica. As nossas crianças estão fechadas, amarradas, em casa, não têm liberdade de ação, não vão a pé para a escola, não brincam na rua. Estamos a viver uma situação insustentável, o que designo por sedentarismo infantil”

Carlos Neto

É hoje inequívoca a diversidade cultural presente na região alentejana. Ao património histórico e construído, alia-se a riqueza do património imaterial com uma inesgotável fonte de tradições e costumes. Referi no artigo anterior, a importância da salvaguarda dos “falares” do Alentejo como um importante foco de identidade a preservar.  Neste enquadramento não nos podemos esquecer do jogo tradicional alentejano. Uma prática pura, de carácter lúdico e que com as suas características muito próprias se apresenta como  mais um “tesouro” a proteger. São também estas características que se diferenciam de outros Desportos, quer seja pela grande relação pela Natureza, pela coesão social, convívio ou por apresentarem muitas particularidades de índole local.

O actual sistema educativo português, tal como tantos outros por essa europa fora, baseia-se numa lógica quase que obsessiva sob o ponto de vista curricular. Uma organização massiva que não deixa de estar centrada e formatada pela também obsessão na avaliação, retirando por isso um dos factores determinantes no equilíbrio e evolução do ser humano: a criatividade. Não menos importante que a gestão e implementação de conteúdos, a exagerada carga horária é outro dos vectores com significativas implicações no processo ensino e aprendizagem. Precisamos com urgência de uma escola onde exista mais equilíbrio entre atividades formais e não formais. De mais diversidade de situações onde os alunos consigam estar “expostos” a diferentes cenários, permitindo-lhes ter maior capacidade de tomada de decisão e relação com os outros.

Por tudo isto importa rever processos, alterar orgânicas e mudar paradigmas. É, o jogo tradicional um importante recurso pedagógico que faz actualmente todo o sentido. Para além de contribuir para o desenvolvimento integral da criança, esta componente de jogos não só promove a valorização do nosso património cultural, como devolve às crianças uma essência que se tem perdido ao longo de décadas: o hábito de brincar na rua. Por outro lado, a implementação e recuperação do jogo tradicional alentejano em contexto escolar, permitirá uma envolvência saudável entre a comunidade educativa e o respectivo território onde se insere. Sensibilizar o gosto pelo jogo e respectiva pesquisa, permitirá uma importante ligação entre, filhos, pais e avós.

Ainda nesta perspectiva e sob o ponto de vista territorial, importa que os próprios municípios promovam políticas públicas transversais que vão de encontro, não só à valorização do jogo, como à criação e implementação de espaços de lazer onde as crianças consigam ter uma maior harmonia no binómio comunidade-escola.

O jogo tradicional é memória e são as crianças as verdadeiras transmissoras da sua autenticidade, mantendo por um lado o sentimento de identidade com a comunidade e por outro, explicando desta forma porque sobreviveram ao longo de décadas. São prática de ocupação harmoniosa e respeitam as vivencias e características da nossa Região. Jogos como o chinquilho/malha, pião, arco e gancheta, entre tantos outros, merecem a atenção de todos nós!

Parafraseando o Professor e investigador da Faculdade de Motricidade Humana, Carlos Neto:

“ Libertem as crianças”!