13 Abril 2022      10:17

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Vendas de borrego do Alentejo aumentam, mas com mais custos

Nesta Páscoa, as vendas de borrego do Alentejo aumentaram face ao ano passado, muito graças à exportação, mas há produtores que se queixam do aumento dos custos de produção, devido à guerra e à seca.

Em declarações à Lusa, Diogo Vasconcelos, presidente da Associação dos Jovens Agricultores do Sul (AJASUL), sediada em Évora, disse que “o borrego está com uma procura interessante. Estamos a exportar muitos machos” e também “há uma procura maior das fêmeas no mercado interno”.

O responsável adianta ainda que a procura por borregos machos, que são os comprados “por Israel e por toda a bacia do Mediterrâneo”, tem sido “constante nos últimos meses”, e o preço da carne destes animais tem tido “uma melhoria significativa”, rondando “os 3,50 euros” por quilo.

Em Beja, António Lopes, presidente do conselho de administração do agrupamento de produtores pecuários Carnes do Campo Branco, com sede em Castro Verde, referiu que a venda de borregos também tem estado a “aumentar muito” face a 2021.

“Já devemos ir entre os 12.000 e os 15.000 borregos vendidos”, revelou o responsável, afiançando que já não é só a Páscoa a “agitar” o mercado de ovinos: “agora, é sempre época alta” para a comercialização, “porque a maior parte vai para fora”.

No Campo Branco, que abrange os concelhos alentejanos de Castro Verde e Almodôvar e parte dos de Aljustrel, Mértola e Ourique, grande parte da produção também segue para Israel.

O preço por quilo tem variado entre “os 3,40 e os 3,50 euros”, uma subida que, ainda assim, “não consegue acompanhar os aumentos das rações”.

“Não estamos a ganhar mais do que no ano passado. Devido à seca, o consumo de rações aumentou de forma brutal” e “ainda hoje há animais a comer à mão”, realçou António Lopes.

E tudo isto faz com que o preço da carne de borrego seja cada vez mais alto para o consumidor final que, “qualquer dia, chega ao talho e não tem dinheiro para a comprar”.

“Está com preços que não são para ‘a carteira’ de todos. O borrego é a ‘lagosta’ da carne e a nossa sorte é a exportação”, acrescentou.

Também o mesmo acontece no distrito de Portalegre. A coordenadora do Agrupamento de Produtores Pecuários do Norte Alentejano – Natur-al-Carnes, Maria Vacas de Carvalho, disse que a guerra na Ucrânia fez “disparar” os preços dos transportes, o que influencia o valor da venda de borregos na Páscoa.

Antes da guerra, este agrupamento pecuário pagava “50 euros” pelo frete cobrado pelas transportadoras entre o matadouro situado em Tomar (Santarém) e os canais de distribuição e, nesta altura, paga “71 euros”, exemplificou.

O presidente da AJASUL alude igualmente ao “preço completamente desproporcional e louco das rações” e de outros fatores de produção, que corta a margem de lucro aos produtores.

“Estamos a vender borregos mais leves e que nos custaram mais dinheiro. Vendemo-los com 25 quilos, o que nos custou 20 euros, quando, no ano passado, estávamos a vender borregos com 30 quilos, que nos custaram 15 euros”, referiu.

Com a seca, “tivemos que lhes dar mais ração” e, devido aos efeitos económicos da guerra na Ucrânia, esses suplementos “estão todos mais caros”, argumentou Diogo Vasconcelos, acrescentando: “Se não tivéssemos tido uma seca, nem uma guerra, estaríamos bem melhor, mas é o que há…”.

 

Fotografia de intermarche.pt