Nota do Editor: Um casal italiano contatou-nos há uns dias por mail porque queria muito encontrar dois nadadores salvadores que lhes salvaram a vida este ano, na praia do Malhão, Odemira. Deram com o nosso jornal através de uma peça que coincidentemente havíamos publicado nesse dia, duas horas antes, a propósito do Malhão.
Ele, Giuseppe Steffenino, médico cardiologista e ela, Manuela Dalbesio, enfermeira em Cuneo, noroeste da Itália. Após uma troca de mails e a nossa sugestão para que contactasse o município de Odemira para que os ajudasse, o que acabou por dar em nada, resolvemos preparar esta peça com um texto do próprio Giuseppe, que quer a todo o custo contactar os nadadores salvadores, que salvaram a sua vida e a da sua companheira, a 27 de junho, por volta do meio-dia, na praia do Malhão. Por isso pedimos a ajuda aos leitores. Talvez consigamos ajudar estes amantes do nosso País a encontrar esses dois heróis anónimos.
Em junho passado a Manuela e eu voltamos pela quarta vez a Portugal. Nós amamos a luz, o céu, o mar, as pessoas, o modo de vida, a música e a comida deste país.
A Manuela é enfermeira e eu sou cardiologista cujas idades somadas resultam em 114 anos, a viver e trabalhar num hospital em Cuneo, no noroeste da Itália.
Desta vez tivemos 15 dias de férias: havia Viana do Castelo, Guimarães, Coimbra, Alcobaça, que ainda não tínhamos conhecido, queríamos rever o Porto, um concerto de Ana Moura em Évora que não queríamos perder, depois o Minho, o Alentejo e Algarve para visitar, sardinhas assadas e música esperando por nós nas esquinas de cada festival de aldeia e - como é junho - cerejas para comer viajando pela estrada.
Alugámos um carro no aeroporto da Portela, Lisboa e... segure bem o chapéu na cabeça, porque já estamos saindo!
As cidades em Portugal são lindas. Ao longo do caminho, o Atlântico nos recebe, um dia sim e outros não, com o seu hálito e com suas ondas frescas na Nazaré, Ericeira, Tavira, Santa Luzia, Odeceixe. Ficaram a restar apenas alguns dias para “gastar” no Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, para depois voltarmos para casa onde iríamos separar as conchas recolhidas as pretas das brancas.
Quinta-feira, 27 de junho, por volta das 12 horas, estamos na praia de Malhão, Odemira. Uma maravilha: sol quente, pouco vento que sopra do mar para a terra, ondas não muito grandes, água fresca, poucas pessoas. Manuela e eu sabemos nadar o suficiente para não correr riscos, sob condições normais, e as ondas médias não nos assustam.
Depois de algum tempo estamos na água que chega à nossa cintura e a ondas borrifam-nos o rosto. Sem que dessemos por isso, a corrente nos atrai para o mar aberto.
Quando a água atinge o meio do peito não nos podemos mais mover andando, então temos que nadar. Sem barbatanas nos pés, a corrente e a onda nos trouxeram contra uma rocha muito afiada. Elas teriam nos levado mais longe, para o mar aberto e talvez fosse o nosso fim e teríamos acabado afogados, se dois nadadores salvadores não estivessem lá, muito atentos e prontos para nos salvar. Um era loiro com barba e seu nome era Andreas, o outro tinha cabelo preto, não lembro se ele tinha barba, e seu nome era Ruben ou algo parecido. Ambos foram bons e amigáveis. Eu gostaria de agradecer-lhes, mas ainda não consegui saber seus nomes através da Câmara Municipal de Odemira.
Os arranhões ardem-nos na pele após os embates na rocha, o susto tirou-nos o fôlego. Após 2 horas de descanso sob o guarda-sol dos nadadores, partimos novamente a pé: salvos, gratos, e talvez mais sábios e mais respeitosos com o Atlântico.
Giuseppe Steffenin