20 Maio 2023      10:09

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O aeroporto com sotaque alentejano

1. No passado mês de Abril fomos surpreendidos com a solução de localização do novo aeroporto de Lisboa em Vendas Novas (erradamente designada de “Pegões” mas, entretanto, corrigida). Nos vários debates e estudos apresentados nunca tinha sido colocada, pelo menos concretamente, a hipótese de esta importante infraestrutura nacional se localizar no nosso concelho, se bem que as soluções mais recentes – Alcochete ou Montijo – fossem também interessantes, por esta ordem, para o nosso território.

A localização do aeroporto em Vendas Novas é, assim, uma oportunidade de ouro para o desenvolvimento estrutural do concelho e do Alentejo como um todo. Os efeitos colaterais desta infraestrutura sentir-se-iam fortemente na maioria do Alentejo Central e noutras regiões consideradas territórios de baixa densidade, sem perder o objectivo principal de servir a Área Metropolitana da capital.

Coloca-se, frequentemente, a questão de como poderemos dar a volta à quebra populacional, ao envelhecimento e à desertificação do Alentejo. Esta é a oportunidade!

2. Vendas Novas é a sexta maior cidade de todo o Alentejo e a segunda do distrito. As nossas relações pendulares estão fortemente viradas para a Área Metropolitana de Lisboa - quer para a própria capital quer para a península de Setúbal. Os últimos censos indicam que cerca de 17% da população está envolvida em movimentos pendulares para fora do concelho, o que corresponderá a cerca de 2.000 pessoas. Embora sem dados evidentes e claros, uma parte importante desta população desloca-se para a zona de Lisboa (seja de veículo, autocarro ou comboio) ou para Setúbal. A distância curta a que estamos de Lisboa é facilitador desses movimentos. Vendas Novas dista a menos de uma hora da capital e, mesmo recorrendo ao transporte público, a ligação é feita em tempos semelhantes até ao centro de Lisboa. Tanto é que, desde a implementação do PART ao serviço ferroviário, em 2021, passámos de 48 para 128 utilizadores regulares, 60% dos quais para Lisboa.

Adicionalmente, a localização estratégica na rede ferroviária é um complemento importante ao potencial geográfico do concelho: a única via de mercadorias que liga o norte e o sul do país passa pelo nosso território; o futuro corredor internacional sul fará passar as composições entre Lisboa, ou Sines, e Espanha pela cidade; o plano ferroviário nacional prevê ligações em alta velocidade também a atravessar o concelho de Vendas Novas. Além disso, o principal nó de autoestradas a sul do Tejo (A2/A6/A13) localiza-se também neste concelho, junto à localidade de Landeira. Somos uma verdadeira porta para o Alentejo.

Consequência evidente da localização estratégica de Vendas Novas é o robusto parque industrial com mais de 60 empresas e 1300 trabalhadores, muitos dos quais de fora da cidade. A dinâmica económica, com cada vez mais empresas a procurar Vendas Novas para investir, leva-nos a prever, no PDM em revisão, a expansão do parque numa área que, no futuro, poderá representar a quase duplicação da capacidade do actual. Neste sentido, e combinando a infraestrutura de transportes e a dinâmica do parque industrial, temos vindo a defender a localização em Vendas Novas de uma plataforma logística rodo-ferroviária.

Talvez por este conjunto de pontos que, apesar de termos sido apanhados de surpresa, não ficamos surpreendidos pela opção de Vendas Novas para o novo aeroporto. Afinal, os argumentos apresentados são demonstrativos de que somos uma localização com potencial.

3. O aeroporto em Vendas Novas significaria uma revolução na economia do Alentejo, sem que com isso se afectasse o desenvolvimento da região de Lisboa. Afinal não é isto a coesão territorial? Os seus impactos far-se-iam sentir a todos os níveis, quer aos mais directos – cadeia de fornecedores de bens e serviços ao aeroporto e companhias aéreas – quer aos mais indirectos. A título de exemplo o actual Aeroporto de Lisboa emprega cerca de 10 mil trabalhadores

É a própria Comissão Técnica Independente que acaba por parecer indicar que Vendas Novas e Alcochete são as alternativas viáveis. Vejamos as sete localizações: Poceirão, que revelam como não tendo capacidade de expansão; Rio Frio, já rejeitada anteriormente por razões ambientais; Montijo, sem capacidade de expansão, além das questões de riscos naturais e ambientais; Santarém, que é das sete a localização mais longe de Lisboa; Alcochete e Vendas Novas, estas últimas com mais potencial.

A decisão que for tomada deverá, naturalmente, servir o superior interesse nacional, e quer seja Alcochete ou Vendas Novas os impactos positivos para a nossa região serão significativos. O progresso também é isto, é trazermos para a região de fronteira que somos um investimento que poderá mudar o rumo de desenvolvimento do Alentejo, tornando-o mais competitivo, mais atractivo para as empresas e indústrias, mais capaz de fixar população. Este não seria apenas um aeroporto para Lisboa, muito menos o de Vendas Novas, seria um verdadeiro Aeroporto Internacional do Alentejo.

Aguardemos mas, acima de tudo, é preciso é que se construa.