10 Junho 2024      09:50

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Ambientalistas condenam central solar do Alqueva

A organização ambientalista GEOTA alertou para os impactes ambientais e sociais cumulativos, “dimensão exagerada” e aparente “falta de planeamento estratégico” do projeto de construção de uma central solar fotovoltaica, na zona de Alqueva.

Em comunicado, citado pela agência Lusa, o Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA) indicou ter apresentado, no âmbito da consulta pública relativa ao Estudo de Impacte Ambiental (EIA) da central, o seu parecer e sugestões para “a melhoria estrutural do projeto”.

O projeto da denominada Central Solar Fotovoltaica do Alqueva é promovido pela empresa Solid Tomorrow, que pretende investir 365,5 milhões de euros, a distribuir por três anos.

“Particularmente preocupante, neste caso, é a falta de planeamento estratégico que resulta na proposta de construção de cerca de um GW (gigawatt) em três grandes centrais solares neste território e consequentes impactes cumulativos”, assinalou.

O GEOTA avisou que já existe um “elevado número de projetos de energias renováveis previstos para esta região, particularmente no município de Moura”, vincando que os respetivos “impactes cumulativos no ambiente e comunidades locais parecem não estar acautelados”.

“O EIA em consulta pública não refere esta possibilidade de serem realmente instalados os múltiplos projetos planeados para o território”, frisou, considerando que “é necessário analisar de forma estratégica a implementação de projetos” para “acautelar impactes cumulativos”.

De acordo com o resumo não técnico do EIA, a central vai ter uma potência instalada de 431,53 megawatts-pico (MWp) e uma potência máxima nominal de 354 megavoltamperes (MVA).

Ocupando cerca de 570,46 hectares, será constituída por 692.970 módulos e terá uma linha de muito alta tensão para injetar a energia produzida na Rede Elétrica de Serviço Público.

No comunicado, o GEOTA salientou que “parece haver falta de planeamento estratégico e pouca clareza sobre a viabilidade técnica da utilização do ponto de injeção na rede de transporte de eletricidade da barragem do Alqueva para a capacidade total prevista”.

Sublinhando que a barragem tem uma capacidade instalada de produção de eletricidade de 512 MW (megawatts), a organização questionou “a viabilidade técnica de os três projetos usarem o mesmo ponto de injeção, quando a produção terá um perfil semelhante para as várias centrais fotovoltaicas e será quase o dobro da capacidade de injeção no pico de produção (990 MW)”.

“Caso seja necessário reforçar a rede elétrica, a justificação para a localização destes projetos neste território perde-se e poderá haver localizações alternativas mais adequadas”, sustentou.

Este grupo ambientalista defendeu igualmente que a “dimensão exagerada do projeto amplia os impactes negativos e significativos nos solos, linhas de água, paisagem, fauna e flora”, indicando, por exemplo, que a construção da central “prevê o abate de 104 azinheiras”.

“Considerando a dimensão, as medidas de mitigação e de compensação são insuficientes e apresentam um potencial reduzido e pouco quantificável”, assim como estão previstas “poucas contrapartidas para a socioeconomia local, ao nível de emprego e outros benefícios”, acrescentou a mesma fonte.

O GEOTA realçou que, se a área ocupada com painéis solares for reduzida, haverá “mais espaço” para promover medidas de mitigação e de compensação e o projeto também “poderia gerar mais benefícios para a população local”, caso fosse incentivado “o aproveitamento da área da central para fins múltiplos e várias atividades económicas (agrícolas, apícolas, pastorícias, lúdicas)”.

“Os promotores podem apoiar técnica e financeiramente a criação de uma comunidade de energia renovável em Moura e a instalação de sistemas fotovoltaicos de pequena dimensão nos edifícios ou em terrenos próximos do aglomerado populacional”, foi outra das sugestões apresentadas.

 

Fotografia de edp.pt