6 Maio 2024      10:17

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Alentejo cria programa para atrair nómadas digitais

O turismo do Alentejo e Ribatejo vai criar cinco hubs, com o objetivo de captar trabalhadores remotos estrangeiros, numa altura em que os nómadas digitais se estão a afastar da cidade de Lisboa, devido à subida de preços, revela o Dinheiro Vivo.

A Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo (ERT Alentejo e Ribatejo) pretende que as duas regiões sejam vistas como uma referência nacional para os trabalhadores remotos e vai apresentar, ainda durante este mês, um programa de atração de nómadas digitais, que tem vindo a ser desenvolvido ao longo dos últimos oito meses e que tem como objetivos captar estes trabalhadores para o território e impulsionar a economia local e os municípios menos povoados. 

De acordo com os dados divulgados pela Nomadlist, uma plataforma global que se destina à avaliação de cidades, Lisboa era, em junho de 2023, a preferida dos nómadas digitais, conseguindo uma classificação de 4,3 em cinco. No entanto, começou, há um ano, a perder popularidade junto destes trabalhadores, situando-se atualmente no 38.º lugar, com 3,68 pontos, devido ao custo de vida e aos preços elevados praticados na capital portuguesa. 

A perda de atratividade de Lisboa é, no entanto, para José Santos, presidente da ERT Alentejo e Ribatejo, uma oportunidade para este novo projeto.

“Sim, estamos a competir com Lisboa. Há um ano que os nómadas estavam a fugir da cidade, porque os preços estavam altíssimos. Queremos comunicar que há uma oferta aproveitando esta oportunidade de eles estarem a fugir de Lisboa. Este é um segmento que está a crescer e os nómadas digitais estão a preferir outras coisas. Estamos, por isso, a posicionar-nos para os trazer para a região”, aponta José Santos, citado pelo Dinheiro Vivo, acrescentando ainda que as regiões do Alentejo e do Ribatejo apresentam vantagens “únicas” a preços acessíveis, algo que os estrangeiros podem encarar como uma mais-valia.

Este programa visa criar hubs em cada uma das sub-regiões, ou seja, Alto Alentejo, Alentejo Central, Baixo Alentejo, Alentejo Litoral e Ribatejo, tendo já, segundo José Santos, vários municípios manifestado interesse em acolher estes centros. Estes municípios estão agora a ser avaliados, uma vez que existem vários critérios estabelecidos que devem ser cumpridos e que passam pela existência de infraestruturas que possam tornar-se espaços de cowork, internet rápida, boa rede e opções de alojamento. 

O presidente da ERT Alentejo e Ribatejo avança ainda que a questão do alojamento está a ser estudada, inclusivamente com hotéis que, na altura da pandemia de Covid-19, quiseram trabalhar com nómadas digitais. No entanto, são várias as opções de alojamento existentes. “Há alojamento que está preparado para receber os nómadas digitais, é preciso preparar e tematizar os alojamentos e dizer que há habitação acessível. Eles escolherão depois se querem hotéis, Alojamento Local (AL) ou habitação particular”, detalha.

José Santos avança ainda que a ocupação média na região alentejana se situa nos 60%, embora seja necessário, em diversas alturas ao longo do ano, “encher quartos”, algo que os nómadas digitais poderão ajudar a fazer, uma vez que permanecem no território por alguns meses, utilizando os serviços e participando na vida cultural. “O problema nalgumas localidades como Cuba, Vidigueira, Ferreira do Alentejo ou Fronteira é que não há gente. São municípios que têm AL e pequena hotelaria e precisam de pessoas”, explicou, ainda ao jornal.

O investimento necessário para a criação dos hubs ainda está a ser identificado, embora este seja apenas necessário para proceder a melhorias, uma vez que as estruturas já terão de existir. 

A ERT Alentejo e Ribatejo, que se encontra a trabalhar com associações do setor, não consegue prever para já quantos nómadas digitais irá receber, porque ainda não existem números finais relativos à capacidade de cada um dos locais. No entanto, o programa arrancou com vários estudos de viabilidade e a ideia é que a comunicação do mesmo comece a ser feita em 2025. Com a viabilidade confirmada, é necessário agora completar várias outras etapas, como a identificação dos hubs, a captação de financiamento para melhorar alguns dos espaços, a montagem de programas de mentoria em todos os locais, a comunicação e a criação da marca. Todos os polos vão também ter um programa de curadoria social, que pretende inserir os nómadas digitais no território e levá-los a conhecer a região onde se encontram.

Neste momento, a grande aposta do Alentejo passa pelos mercados externos, embora os principais responsáveis pelas dormidas nesta região sejam, atualmente, os portugueses, algo que a ERT Alentejo e Ribatejo pretende alterar ao longo de três anos, através do investimento na internacionalização. 

No ano passado, o Alentejo recebeu um grande número de turistas oriundos dos Estados Unidos da América, país que representou o segundo mercado estrangeiro da região, assinalou José Santos. O responsável falou ainda do preço, afirmando que o mercado continua a responder, embora a inflação tenha subido, e defendendo que existe margem de crescimento em 2024, ainda que, a certa altura, tenha de haver alguma estabilização.

 

Fotografia de publico.pt