28 Fevereiro 2023      14:40

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Agricultores querem correção do plano de rega da Barragem do Pisão

A Associação de Produtores Agrícolas de Precisão (APAP) exigiu no dia de ontem (27) que o Governo corrija o projeto do perímetro de rega integrado na construção da Barragem do Pisão, no concelho alentejano do Crato, por considerar que este “poderia ser feito melhor”.

De acordo com a agência Lusa, que teve acesso a uma carta enviada pela APAP a Maria do Céu Antunes, ministra da Agricultura e da Alimentação, a associação nota que a discussão do projeto da barragem foi feita de uma forma “muito genérica”.

“Queremos acreditar que ainda se possa ir a tempo de corrigir parte do que, na nossa visão integrada do perímetro de rega, poderia ser feito melhor, aproveitando de maneira mais correta os solos agrícolas da região e distribuindo água a mais regantes”, escreve a APAP na referida carta.

A APAP, que criou, em conjunto com a Associação de Agricultores do Distrito de Portalegre, no ano de 2019, a Associação de Beneficiários da Barragem do Pisão, nota, lamentando, que “nunca” foi criado um grupo de trabalho para apoiar o projeto do Pisão.

Este grupo, que deveria incluir as associações, os técnicos agrícolas locais, os agricultores e as academias, poderia recorrer ao “conhecimento e experiência” destes para “evitar erros já cometidos muitas vezes noutros empreendimentos”, sustenta a APAP, que tem sede no concelho de Elvas.

O Empreendimento de Aproveitamento Hidráulico de Fins Múltiplos (EAHFM) do Crato, mais conhecido por Barragem do Pisão, representa um investimento de 171 milhões de euros, estando 120 milhões inscritos no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

Na carta enviada no passado dia 14 e, entretanto, recebida por Maria do Céu Antunes, a APAP defende que o projeto previsto para o perímetro de rega do Pisão “não é muito diferente” do que existia “há cerca de 20 anos”, embora nessa altura estivessem contemplados “alguns reservatórios” de regularização que, com recurso às estações elevatórias, tornariam possível regar uma área maior, “sem o fator limitante” da cota do terreno.

“No projeto agora aprovado, não existem reservatórios, nem estações elevatórias, sendo a seleção dos terrenos a irrigar feita, naturalmente, pela cota que limita o abastecimento da rede gravítica e não pela aptidão da qualidade dos solos”, avisam.

A associação avança ainda, noutro documento enviado à Lusa, que a forma como está projetada a obra de rega da Barragem do Pisão a torna um “desastre técnico”, que é “assumido em ‘off’ por alguns projetistas”.

“Em fase de campanha eleitoral estavam previstos mais de 11 mil hectares de solos a irrigar, hoje os números passam para metade e não chegam aos 5.500 hectares”, nota.

Destes cerca de 5.500 hectares, acrescenta ainda a associação, “uma grande parte corresponde a agricultores que regam esporadicamente (possivelmente cerca de 60% dos agricultores só regam em anos de seca), pois em anos normais regam de reservas próprias”, o que a leva a considerar que em causa está uma obra que “nunca se paga” e que se mostra, assim, “totalmente inviável” em termos económicos.

“Os agricultores do Alto Alentejo vão utilizar, na melhor das hipóteses, menos de 9% do volume de água armazenado na albufeira do Pisão, o resto da água disponível para regadio vai seguir para o Vale do Sorraia. Mais uma vez, o Alto Alentejo vai fazer, essencialmente, reserva para o Vale do Sorraia, com as albufeiras do Pisão, Maranhão e Montargil”, escreve.

A construção da Barragem do Pisão deverá estar concluída no ano de 2025, de acordo com o cronograma enviado à Comissão Europeia.

A Lusa nota ainda que há muito tempo que as populações da região do Alto Alentejo ambicionam e reivindicam a construção desta barragem, que vai abastecer as cerca de 55.000 pessoas dos concelhos de Alter do Chão, Avis, Crato, Fronteira, Gavião, Nisa, Ponte de Sor e Sousel.

 

Fotografia de publico.pt