Segundo o Governo, o ajustamento do número de trabalhadores do Estado continuará até 2020, mas parece que existe margem de manobra para… (rufar de tambores) “incentivos à produtividade do emprego público”.
Independentemente de saber de onde vem esta margem de manobra, julgo pertinente abordar a questão, com o à vontade próprio de quem está atualmente a trabalhar em funções públicas.
Ponto de partida: existem claras diferenças entre emprego público e emprego privado. Seja a nível de remunerações, da estabilidade profissional, do sistema de saúde, etc…
A própria finalidade é em si distinta e os funcionários públicos existem, em grande medida, para desempenhar as funções que competem ao Estado: segurança, saúde, educação, justiça…
Com todas estas diferenças, falar na produtividade em termos públicos não é igual a falar em produtividade no setor privado. Analisarmos vendas por horas de trabalho ou o cumprimento dos objetivos não pode ser equiparado, por exemplo, ao número de pessoas (bem) atendidas num determinado serviço público.
Consigo entender e até elogiar uma empresa privada que incentive os seus trabalhadores mais produtivos, distribuindo pelos mesmos lucros no final do ano.
Mas a nível de emprego público? Não deveriam ser necessários (mais) incentivos à produtividade.
Alguém que trabalhe num serviço público de atendimento, retomando o exemplo, deveria incorporar esse verdadeiro espirito de serviço público, não esquecendo que se alguém o procura é porque na generalidade dos casos não tem alternativa.
Não é como escolher ir ao café X, apesar das outras dezenas de alternativas, onde aí sim, somos melhor atendidos.
O simples incentivo moral devia ser mais que suficiente! Saber que se está a desempenhar uma função em prol de todos, do bem comum não basta para que se seja produtivo? Aparentemente não…
Agora pergunto: e se os incentivos fossem penalizadores? Definindo com exatidão os níveis de serviço em coisas tão simples como por exemplo, o número de dias para responder a um determinado requerimento e verificar se o prazo era respeitado. Não esquecendo de averiguar o porquê de alguém não o ter cumprido enquanto que o colega do lado cumpriu? Quem afinal é mais produtivo?
Simples, não?
Caso se opte por incentivos positivos, como as faladas progressões na carreira, corremos o risco de estar a desvirtuar as coisas. O mesmo funcionário que agora não se preocupa muito em cumprir os prazos, pode passar a despachar papéis até mesmo sem os ler.
É que no final de contas, a dose certa do incentivo tem muito que se lhe diga…
Imagem © Michael Pollak.