1 Março 2023      00:00

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Ucrânia e a jogada de casino de Vladimir Putin

No momento em que este artigo é escrito, antecipa-se a todo o momento o início da chamada ofensiva de primavera, por parte da Ucrânia, na guerra que se trava no leste da Europa. Independentemente do desfecho de tal movimentação militar, neste momento é evidente que a Rússia não vai atingir os objetivos a que se propunha a 24 de fevereiro de 2022. Mas isso não significa que a Ucrânia venha a ser capaz de retomar a totalidade dos seus territórios.

Acima de tudo, isso pouco diz sobre a influência da guerra no sistema internacional, de forma mais global. Os seus efeitos transformadores poderão ser menores do que se pensava quando a guerra começou.

Uma jogada de casino fracassada

Rapidamente ficou claro que Vladimir Putin arriscou tudo num lançamento de dados, como se estivesse a jogar na roleta ou num jogo de “slotmachines” em busca de um jackpot, num casino online confiando nas probabilidades.Clique aqui para verificar um exemplo deste tipo de plataformas. O presidente russo apostou num ataque rápido e cirúrgico que demolisse o estado ucraniano, ou pelo menos o seu governo, mas claramente fracassou.

Já desde há muitos meses que ficou claro que a Rússia perdeu todos os meios de ataque necessário para conquistar território. As suas únicas iniciativas de ataque têm-se limitado ao lançamento de mísseis de cruzeiro, na esperança de amedrontar os ucranianos, e os ataques do Grupo Wagner na cidade de Bakhmut, onde as perdas acumuladas já superaram em muito os limitadíssimos ganhos territoriais.

O “Sul Global” na expectativa

Os meios diplomáticos e mediáticos da Europa pareceram ficar surpreendidos com a relativa indiferença, ou até alguma hostilidade, dos países da Ásia, África e América Latina em relação à causa ucraniana. Tal surpresa deve-se a um pensamento eurocêntrico ainda demasiado arreigado. O diplomata de Singapura KishoreMahbubani“recorda-nos”, se lermos o seu artigo de 2008 sobre a invasão russa da Geórgia, que já à época o agora chamado Sul Global sentia-se tentado a apoiar a Rússia contra o Ocidente, em vez da pequena Geórgia contra o “bully” russo.

É importante notar que a invasão unilateral do Iraque trouxe gravíssimos custos diplomáticos aos Estados Unidos – e a todos os seus aliados, por arrasto. Nesta matéria, foi um monumental “tiro no pé”, custando amigos e parceiros aos Estados Unidos até hoje.

Ainda assim, é preciso não esquecer as realidades duras da “realpolitik”. Os mais fortes conseguem ter amigos com mais facilidade. Como referiu JananGanesh recentemente no Financial Times, os Estados Unidos têm vindo a demonstrar que conseguem, com uma pequena fração do seu orçamento militar, bloquear o poderoso exército russo. A importância da América enquanto exportadora de energia aumentou, enquanto os europeus se livraram da dependência russa. Os americanos mostraram, novamente, ser aliados de confiança. Isto fará muitos países no Sul Global compreender as vantagens imediatas da proximidade americana.

Com ou sem Ucrânia, a Europa precisa de encontrar soluções

A aliança ocidental saiu claramente reforçada, ao contrário do que Putin previa – e provavelmente ao contrário do que Xi Jinping previa também. O reforço da coesão entre a Coreia do Sul, o Japão ea Austrália, com os países da ASEAN (Associação de Nações do Sudeste Asiático) e a Índia interessados também em manter a América por perto, são consequências diretas da invasão ucraniana. Na Europa, a NATO já “cresceu” com a Finlândia, e a Suécia deverá seguir-se no futuro.

Porém, continuarão a existir interesses divergentes no seio da Europa, entre países e entre correntes partidárias e ideológicas. A Europa não deve depender eternamente dos Estados Unidos para a sua segurança, impondo-se uma nova mentalidade estratégica. Esperemos que o espírito de “Zeitenwende” (mudança de época) declarado pelo chanceler alemão OlafScholz a 27 de fevereiro de 2022 faça escola e leve os europeus a investir mais na Defesa – o suficiente para que possamos focar-nos noutros problemas que, se houvesse mais espírito de cooperação entre as nações, seriam mais urgentes, como as alterações climáticas, o combate à pobreza e questões de saúde global.

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Alex Larsens, Content Writer, alexlarsens90@gmail.com

Imagem de capa de Special-ops.org