4 Junho 2018      07:27

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Direito a escolher

“Sou contra a eutanásia porque sou contra a opção de uma pessoa pôr termo à sua vida”. Este é um dos argumentos apontados por uma das manifestantes à porta da Assembleia da República no dia em que foram discutidas as propostas de lei para a despenalização da eutanásia.

Tal como tinha escrito em crónica anterior, este tipo de argumento (somado ao argumento “não matem os velhinhos” e ao “a eutanásia mata”) apenas vieram toldar toda a discussão necessária ao tema da eutanásia em Portugal.

Ao ouvir o argumento daquela jovem confesso que foram precisos alguns minutos para assimilar o que tinha acabado de ouvir.

Então agora podemos interferir no direito de escolha de uma pessoa em terminar com um sofrimento atroz e um estado de dependência total e em que a dor não é maior nem menor, mas contínua?

Tentar misturar o tema da eutanásia com a falta de cuidados paliativos é apenas mais uma tentativa desesperada de toldar a opinião pública que ainda possa ter algumas dúvidas sobre este tema.

É claro que a rede de cuidados paliativos necessita de melhorias e de um sério investimento. No entanto, estamos a falar de casos em que infelizmente já nem os cuidados paliativos diminuem a dor e o sofrimento da pessoa doente.

Estamos a falar de pessoas que estão em sofrimento tal que, na falta de poderem escolher pela eutanásia optam pelo suicídio.

Sendo esta temática bastante sensível, a sua discussão deverá ser séria e mostrar os dois verdadeiros lados da questão.

Já é quase certo que esta matéria voltará a ser discutida na próxima lesgislatura.

Será importante que até lá se discutam seriamente os argumentos prós e contra e não se tente enganar a opinião pública com chavões que em nada correspondem ao cerne da questão.

Certamente que os prós e os contras terão argumentos válidos e que merecem ser ouvidos e debatidos, mas por favor não tornemos este assunto em algo que se resume a uma frase.

Afinal não são só os velhinhos que sofrem de doenças terminais e incuráveis. Qualquer um de nós, jovem ou menos jovem poderá passar por um estado de sofrimento e dor tal que deverá ter o direito a escolher entre continuar ou não.

Todos nós, jovens e menos jovens temos o direito à dignidade.

Que se apresentem argumentos, que se discuta, que se volte a votar mas que nunca nos esquecemos que a liberdade de escolha foi um direito que custou muito a conquistar.

Veremos o que nos trará a próxima legislatura.

Até lá, tal como disse uma doente terminal após a votação: “não é por o não ter ganho que de hoje para amanhã irão descobrir a cura para a minha doença”.

São estes doentes que devem ser ouvidos pois eles, melhor que ninguém sabem descrever o que estão a passar.