Lá bem no fundo do meu íntimo,
recordo o interior de Portugal
lotado de famílias
a vivê-lo, a habitá-lo.
Recordo melhor ainda
o acontecimento posterior:
Emigração para o litoral.
Os mais novos foram,
os mais velhos ficaram.
Não estou chocado;
As civilizações antigas e modernas
sempre procuraram ficar
mais junto à Costa ou
mais junto ao Rio;
e é por isso que cá continuamos.
Ainda assim o problema é mais profundo
do que governativo.
Somos nós.
É fácil apontar
a culpa aos outros:
"A culpa é do governo!"
"A culpa é do sistema!"
"A culpa é de todos!"
"A culpa não é minha!"
Difícil é:
reconhecer,
começar,
resistir à mudança,
ser o primeiro,
ser o exemplo,
fazer as malas,
deixarmo-nos ir.
Mais difícil ainda
e nem sabemos porquê
é voltar a ser terra do nosso sangue
para sempre, outra vez.
Fotografia de Henri Cartier-Bresson (1955) em ahmedmaksoudblog.files.wordpress .com
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Ricardo Jorge Claudino nasceu em Faro em 1985. Actualmente reside em Lisboa. Mas é Alentejo que respira, por inigualável paz, e pelos seus antepassados que são do concelho de Reguengos de Monsaraz. Licenciado em Engenharia Informática e mestre em Informação e Sistemas Empresariais pelo Instituto Superior Técnico de Lisboa. Exerce desde 2001 a profissão de programador informático. Também exerce desde que é gente o pensamento de poeta.