18 Novembro 2023      16:43

Está aqui

O frenesim mediático, a má moeda e os loucos guiando cegos

Na realidade, em pouco mais de uma semana o lítio, hidrogénio, investigações, buscas, demissões, demissão do governo, eleições legislativas em março, eleições internas do PS, Procuradoria Geral da República, Governador do Banco de Portugal, foram os temas emergentes da atualidade.

Não haja dúvidas, o frenesim mediático dos últimos dias foi mesmo muito intenso. Os episódios, as ocorrências, os casos, as polémicas em torno da «Operação Influencer» foram avassaladores na última semana e meia.

A realidade ultrapassou claramente a ficção. A politica portuguesa tem andado num verdadeiro carrocel nos últimos dias. Não a política de resolução de problemas dos portugueses. Não a política das reformas. Mas sim a má política. A política que afasta as pessoas tem ganho um espaço gigantesco!

«A má moeda tende a expulsar do mercado a boa moeda». É um princípio económico, respeitante à Lei de Gresham, a qual prevê a ocorrência de um fenómeno de conservação por parte dos agentes da moeda "boa", enquanto que a moeda "má" é utilizada para efetuar os pagamentos. Assim, a moeda dita "má" acaba por expulsar da circulação a moeda dita "boa", que os agentes têm tendência a manter em seu poder.

É precisamente isso que se está a passar com a política portuguesa. A má política expulsa a boa política.

Neste frenesim de enfraquecimento das principais instituições da República, ganha a má política.

É neste contexto que lembro a personagem do Rei Lear, numa das tragédias mais conhecidas de Shakespeare, em que afirma que é um castigo do tempo transtornado em que vivem, que os loucos guiem os cegos. É precisamente nessa passagem que vem à memória quando não sabemos ao certo se estamos frente a tragédias ou óperas-bufas. Se tratamos os heróis, bons ou maus, às voltas com a inexorabilidade dos seus destinos ou de personagens caricatas cujo destino é entreter pelo evidente ridículo de suas falas, figurinos ou atuações.

Na ficção de Shakespeare podemos rir, gozar, entreter, até mesmo admirar as personagens, e quando acaba a peça, voltamos para a nossa casa e retomamos a nossa vida dentro da normalidade. Acredito que é isso que nos leva a sair de casa na procura de bom entretenimento, diversão, conhecimento e cultura.

Mas o que vivemos nos últimos tempos da política portuguesa não é ficção. É mesmo demasiado mau para ser verdade.

Felizmente existe sempre a esperança que mudem as personagens e que mudem as politicas. A esperança que talvez seja da próxima vez que as coisas venham a mudar verdadeiramente. Vamos acreditar e fazer com que aconteça.