A vida de muitos de nós passa por diferentes lugares, distâncias que se encurtam e outras que se alargam. Saber contar essas distâncias é um privilégio que muitos de nós gostaríamos de ter. Demonstra por um lado, atenção aos pormenores e ao que implica saber ir do ponto A até ao ponto B. Por outro lado, demonstra que na nossa vida importa percorrer esses caminhos e aproveitar o percurso. Há quem visione a vida como uma autoestrada que tem portagens no início, muitas a meio e todas elas no final. As portagens são uma metáfora do preço que temos de pagar para atravessar esse caminho.
Menos do que numa estrada nacional ou municipal, há curvas também numa autoestrada. Há paisagens monótonas, muitas vezes, indicações de atrações laterais, distrações menores ou maiores. E são tantos os que se cruzam connosco nas nossas viagens.
Há pessoas que fazem as suas viagens sozinhas, ora em trabalho, ora em passeio. Outras levam consigo as famílias, que ora crescem, ora diminuem ao longo da viagem. Também há quem cumpra o caminho à boleia de outros ou, não havendo outra hipótese no momento, em transportes coletivos, como os autocarros que passam por nós e têm um destino de partida e outro de chegada.
Poderá tudo isto ser uma metáfora reflexiva de vidas que se percorrem. Poderá apenas ser uma descrição breve de uma realidade que é transversal a quase todos os países ditos civilizados.
Por outro lado, há acidentes e avarias nos percursos, aquilo em que nos fazemos transportar. Pois foi isso precisamente que me aconteceu esta semana. No percurso do ponto A ao ponto B, a meio da viagem, o transporte decidiu avariar. São irrelevantes as razões da avaria. Essas são sempre, nas diferentes ocasiões, muitas e complexas, ou poucas e simples. A avaria que me calhou foi simples, mas não de resolução imediata. Obrigou-me a, durante três horas, refletir sobre o imprevisto, sobre a pressa de chegar e a vulnerabilidade perante o que não podemos controlar. A reflexão ajuda sempre a elencar uma série de eventos, possibilidades, desfechos e motivos que nos podem levar ao desespero, ou perante o domínio dos pensamentos racionais e irracionais, assimilar a realidade e resolver a situação.
Durante três horas, alguns pensamentos menos positivos e cristãos em relação à viatura, a contagem das viaturas e as vidas que passaram por mim em todos os casos acima já descritos, a contagem das oliveiras e um lindo entardecer ao qual não prestei muita atenção, percebi que efetivamente, perante as avarias dos transportes, da nossa vida, a serenidade e a racionalidade ajudam a encontrar a solução e a seguir caminho.
Esta semana, foi isto que o Km 135 do sentido norte sul da minha vida me ensinou. Espero, todavia, que semelhante reflexão aconteça daqui a muito tempo, senão nunca.
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