29 Agosto 2023      11:13

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Falar várias línguas

Imaginemos uma pessoa que só fala português ou outra língua, europeia ou não, e não teve nunca a oportunidade de aprender ou dominar outro idioma. Imaginemos uma pessoa que pensa e se expressa num só idioma.

Imaginemos, por outro lado, um cenário em que há várias paredes, umas constituídas por paredes contínuas, sem nada mais além de tijolos e cimento ou betão. Outras, construídas com portas ainda fechadas, mas que podem ser abertas, e pequenas janelas que deixam ver o prado e a cidade além dela.

Imaginemos o mundo fora dessas paredes. Alguns podem vislumbrar aquilo que além dele existe. As paisagens de campo, o movimento de cidades que não param e onde milhares e milhares de pessoas que não se conhecem, se cruzam e continuam sem se conhecer.

Todos aqueles que existem, de uma ou de outra forma, podem imaginar estes cenários. Podem fazer deles o que quiserem, ainda que nunca os venham a ver na realidade.

Voltemos a uma pessoa que fala só uma língua. Voltemos à construção de quatro paredes, uma sem nada, outras com janelas e outras ainda com portas. Se lá estivessem essa pessoa, que só fala uma língua, pessoas que falam duas línguas e outras que falam mais de duas línguas, para onde estariam viradas? Que visão teriam na sua frente? Que sentido fariam da realidade e das suas potencialidades.

Não é o mesmo, mas acontece quando viajamos. Aí verdadeiramente sentimos a necessidade de falar outra língua, a útil para o contexto, ou várias línguas. Diria mesmo que quantas mais melhor.

Quando viajamos encontramos paredes como aquelas que assinalei acima. Quando viajamos encontramos pessoas como as que iniciamos este percurso. Pessoas que vão até lá e outras que já lá estão. E como superar o betão? Aquele que fala várias línguas, abre as portas, abre as janelas e transpõe esses labirintos e poderá apreciar as ruas da cidade ou correr nos campos verdes, amarelo torrado, nas florestas. E saberá chamar pelos nomes cada aspeto daquilo que os seus olhos registam.

Aquele que tem uma parede sem portas ou janelas e do outro lado alguém lhe fala noutro idioma, talvez por gestos se consigam entender. Porém, tal dependerá do tamanho do muro, das capacidades acrobáticas da pessoa e, se com sorte, as mãos e os braços alcançarem a vista dos outros, poderá comunicar-se.

No fundo, tudo dependerá de uma série imensa de fatores e condicionantes. Já passei por esse muro, já tive janelas, já consegui abrir portas com facilidade. Tudo dependeu da localização geográfica e da língua que ali se falava, ou as que ali não se falavam.

Inventamos já outras formas de superar este nosso constrangimento, tradutores online, dicionários, entre tantos outros, mas, pelo sim pelo não, o melhor mesmo é falar várias línguas e ter as paredes equipadas com portas e janelas.