O cigarro em cima da mesa redonda com o formato da tua boca queima à medida que o meu fado é desenhado.
O cheiro já entrou dentro de mim e o meu coração sorri com a recordação, os meus pulmões pedem por mais e dou por mim a implorar por ti.
Só, encosto a minha cabeça à parede fria e o meu corpo rapidamente reage, encolhendo com a temperatura desagradável.
A minha pastilha de menta já perdeu o sabor há minutos e a única coisa que sinto neste momento é a mágoa a correr entre as minhas veias a pedir auxílio sendo que não consigo ajudá-las. Preciso de um coração e ele ausentou-se. Preciso de um abraço e este desapareceu. Preciso de uma respiração quente contra a minha, mas tudo se foi.
A palma do meu pé cai com paz no chão, agarrando o mesmo e o frio cumprimenta-me de novo, tendo a urgência de sentir algo que provoque algo em mim.
O sentimento junto da melancolia estão aqui para ficar e sinto-me presa numa teia de aranha para sempre.
Tudo o que eu desejaria neste momento era sentir o teu coração no meu, que o segurasses e o moldasses com força a forma da tua mão, que me prendesses de forma a sentir-me segura, para que nunca mais me deixasses ir. Escrevo todos os dias na minha memória sobre ti e um amor impossível, o meu inconsciente pega em letras e pinta sentimentos através das mesmas, a prova mais bonita de amor que sei construir.
Batem agora as três da manhã e não há sinais do cigarro.
O frio continua espalhado em mim, mas não tenho forças para me levantar e dirigir até à saída. Não tenho coragem de abandonar.
Nunca esquecendo de onde pertenço, fecho os olhos lentamente e nenhuma lágrima escorre já pelo meu rosto cansado.
Podia estar a pegar em chamas neste momento que nem iria senti-las, nada queima mais que os meus pensamentos.