13 Junho 2020      11:03

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Sem saudades de Mário Centeno

Não vou ter quaisquer saudades de Mário Centeno. Já tenho pouca pachorra para o politicamente correto, para os elogios bacocos a muitos dos adorados do povo, mas sobretudo utilizar palavras e frases que agradam a todos.

Vou tentar explicar de uma forma resumida porque é que considero que Mário Centeno foi um mau Ministro das Finanças:

 - Quando assumiu funções, Mário Centeno teve a sorte de receber a economia em franco crescimento. O País crescia economicamente e o desemprego baixava sustentadamente. Foram dois anos consecutivos em que a economia cresceu (2014 e 2015). Dois anos de crescimento firme após o País ter ultrapassado uma crise fortíssima. Herdou um País a crescer, com a vantagem de já terem sido efetuadas reduções brutais do défice público em 4 anos. Herdou grande parte das reformas difíceis que o anterior Governo foi ´´obrigado´´ a concretizar. O trabalho difícil, em ultrapassar uma bancarrota, estava feito pelo governo de Passos Coelho e Maria Luís Albuquerque (o défice situava-se em de 2,8%).

Mário Centeno para continuar a redução do défice recorreu a 4 mecanismos: Cortes gigantescos no investimento público, como nunca se tinha visto (através das famigeradas cativações); Aumento da carga fiscal para recordes históricos; Juros baixos, com recordes históricos, graças às sucessivas e extraordinárias intervenções do BCE. Beneficio dos dividendos gerados pelo Banco de Portugal e CGD, graças a uma conjuntura externa claramente excecional.

Neste contexto, de forte carregamento nos impostos e de brutais cortes no investimento público (basta ver o estado terrível a que chegou o SNS), foi andar à boleia da economia. Economia que beneficiou fortemente dum crescimento bastante significativo do turismo (que também já vinha de trás), mas também do crescimento generalizado da atividade gerada pelas empresas portuguesas.

É verdade que neste contexto a economia cresceu, o desemprego baixou, o défice público diminuiu, mas o País estruturalmente nada mudou. Na prática, ficamos com um País sem especialização, com níveis de produtividade baixos, e sem grandes ambições estratégicas. Na realidade Portugal ficou menos preparado para enfrentar contextos difíceis, isto porque abandonou todas as reformas estruturantes que se encontravam em curso. São os chamados ´´custos de geringonça´´!

Existem outros aspetos que também me fazem não ter quaisquer tipos de saudades de Mário Centeno, a maior parte deles têm a ver com sua própria personalidade. Nunca senti grande confiança em Mário Centeno, quer em termos técnicos, quer em termos pessoais. Em termos técnicos considero que existiram muitas opções na sua gestão que foram erradas. Muitas vezes contraditórias com o Mário Centeno ministro das finanças e Mário Centeno presidente do Eurogrupo. Uma espécie de Olívia patroa e Olívia costureira! Lá fora um ´´castigador´´ das dificuldades gregas e de outros povos europeus, cá dentro o discurso de que não há cortes, nem aumento histórico da carga fiscal, ou seja, tudo se fez sem austeridade. Que grande mentira!

Em termos pessoais, pude presenciar as mentiras fáceis de Mário Centeno. As mentiras sobre as políticas adotadas, as mentiras sobre os dados apresentados, as mentiras nas respostas aos deputados e aos jornalistas.

Também nunca gostei da sua postura arrogante, e mesmo pouco leal para com a pessoa que o escolheu para o cargo. Mas isso são outras apreciações.

Para mim Mário Centeno não deixa saudades, nem confio nele para futuro Governador do Banco de Portugal.

 

P.S.: já nem quero falar do abandono do País em tempo de crise por governantes socialistas. Já estamos habituados!