4 Junho 2020      19:22

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O sonho americano neste carnaval fora de época

O sonho americano neste carnaval fora de época e os (re)descobrimentos portugueses

Corria o ano de 1937, em pleno Estado Novo, quando o parecer à proposta de Lei do contrato de trabalho da Câmara Corporativa apontava a segurança no emprego como a “grande preocupação das modernas legislações do trabalho”, depois do “flagelo mundial do desemprego” (ver fonte na nota 1). Quem diria que em pleno ano de 2020 uma calamidade mundial que não poupou países nem isentou qualquer grupo ou segmento da população mundial viesse trazer a evidência mais direta sobre as novas relações de trabalho.

Atualmente em Portugal usamos as novas máscaras do nosso carnaval fora de época também para começar a filtrar todas as tendências que vão ser fundamentais para a nova e já atual forma de trabalhar. Não tenhamos ilusões pois é evidente que as relações de trabalho já são outras.

Já é uma realidade que qualquer colaborador, principalmente em funções não rotineiras, terá de se reinventar de modo a demonstrar como agregar valor à sua entidade patronal.

Se em pleno Estado Novo o objetivo foi garantir segurança dos empregos após um flagelo mundial do desemprego então nos dias que correm torna-se muito mais incerto definir, com a segurança desejável, como se manter o maior número de postos de trabalho.

Nos Estados Unidos da América (EUA), berço do sonho americano, vive-se já há muito tempo uma relação de trabalho muito mais flexível e que valoriza o valor agregado no curto prazo de cada colaborador. Também nos EUA cerca de 25% da população ativa já recorreu aos benefícios de desemprego disponibilizados. Estima-se que em Julho terminem os apoios financeiros neste cenário e que o grave problema da falta de pagamento de rendas de habitação se torne num problema de magnitude incalculável. Existem vários estados no EUA que disponibilizaram fundos para as famílias que não conseguem pagar as rendas das suas casas. A maior parte destas situações estão a demonstrar-se insuficientes havendo milhões de famílias sem condições de conseguir pagar a renda de casa. A maioria dos senhorios nos EUA são particulares que investiram numa casa para arrendamento e que vivem desse proveito. Dá para sentir o caos que poderá chegar…

A população dos EUA é quase 33 vezes superior à de Portugal. Não seria justa uma comparação direta. Por outro lado também é preocupante como nos EUA ainda não há uma solução racional à vista para manter o direito à habitação de milhões de famílias.

É tempo de novos descobrimentos portugueses. É tempo de se descobrir para fora cá dentro e sempre tendo na base o fantástico código genético que nos caracteriza e que já fez milhares de portugueses serem reconhecidos além fronteiras.

Podemos não saber onde vamos chegar mas sabemos porque estamos a fazer esta viagem e estamos certos que cumprindo os objetivos parciais de cada pequeno desafio jamais teremos como falhar a tão merecida estabilidade. A nova segurança das relações de trabalho está na flexibilidade e na mente aberta de fazer melhor e de forma diferente.

Nota 1: Varela, L.; Sastre, M.; Caroni, P.; Daura, JGonzález, A.; Testos, J.; Gallego-Burín, M.; Ferrer, M.; Tagle, F.; Camallonga, C.; Macedo, C.; Oliveira, L.; Caleira, J.; Martínez, I.; Reina, A.; Gómez-Mampaso, B.; Herráiz, P.; Brigas, M.Seixas, M.Nunes, F.(2018) Estudos Luso-Hispanos de História do Direito, Universidad Carlos III de Madrid. Madrid