Longa a noite, a mais longa das noites que se esperava calma e sem sobressaltos, a noite escura de uma cidade que dormia sonhando com pesadelos e que, de repente, perto da madrugada e dos primeiros raios de sol, viu estrelas tiranas substituírem aquelas que durante o escuro e a paz do sono dos homens bons alumiavam a paz.
Nessa noite, as estrelas falsas, disfarçadas de cadentes e que são, no fim, mortíferas e imorais. O rasto de destruição do sono e dos sonhos depressa se alastra a todo um território que, anunciado, estava já cercado pela escuridão. O cordeiro é um lobo e todos os sabíamos.
Fechamos os olhos e imaginamos as estrelas falsas como verdadeiras. Não por acaso essas estrelas substituem aquelas que são isentas e brilham lá longe. Não por acaso as estrelas falsas voam no ar e interrompem o sono, aniquilam os sonhos e trazem consigo os pesadelos a tanto e tantos, especialmente às crianças, a quem porventura ninguém teria falado da longa noite escura, ou da possibilidade e existência de estrelas falsas que são criadas pelos homens cujo coração apodreceu e sobrevive alimentado de ódio e sede de poder e mais, e mais… ninguém disse às crianças que um mundo onde a noite era feita de um sono calmo, onde as estrelas verdadeiras estavam no céu, lá longe, a muitos mil quilómetros e não eram uma ameaça. Ninguém lhes disse, até que essa noite longa de estrelas falsas, já premeditadas pelos adultos que falharam em evitar a chuva, que a noite longe podia durar uma vida inteira. Ninguém lhes disse que os parques de recreio seriam cemitérios de corpos sobrepostos e abandonados por não terem quem lhe desse o descanso digno de um corpo cuja alma voou no céu tentando cortar o alvo de uma estrela cadente falsa.
Na noite escura, os homens de coração decrépito usam todos os raios de luz para se alimentar e, pela sua destruição, justificar a sua sede da escuridão.
Sonhai, crianças, sonhai que a noite escura invadida por estrelas falsas não dure uma vida inteira. Usai a força da luz do vosso coração para alumiar além daquilo que os homens de coração tão escuro como a noite não podem mais ver.
Mostrai, jovens que conheceram só noites de estrelas verdadeiras, que os sonhos se sobrepõem à tirania e que o mundo, pese embora o alinhamento e o tempo, reconhecidas as estrelas falsas e os sonhos que querem tornar em pesadelos, cedo se transformará no maior pesadelo daqueles que querem tirar as noites de paz a todas as crianças do mundo.
Sim, todos vós tendes direito a sonhar. Sim, a noite pode ser escura, os sonhos nem sempre são perfeitos… mas as estrelas falsas vão cair na terra, não brotarão como sementes e um dia deixarão de existir.
Sonhai crianças! E, sonhai, principalmente, vós, os adultos que perderam essa capacidades e transformaram o sonho em algo monstruoso e ignóbil, e que substituíram as estrelas do céu e o horizonte azul por um Mar Negro repleto de sangue e de dor. Sonhai porque só os sonhos de quem ama e é amado poderá acalmar a fúria que se segue ao que todos tememos.
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