Ontem comprei duas romãs por cinco euros. É uma fruta cara, devo dizer… mas por outro lado, o que não é caro nestes dias. A resposta é nada, tudo ultrapassa o preço normal de qualquer coisa. E a pandemia acrescentou euros e dólares a tudo.

Porém, voltando às romãs, levante a mão quem não gosta de uma boa romã, já descascada para comer? Quem nunca teve o prazer de esmagar um dos gomos de romã suculentos e cheios de história e de enigmas?

Desde a Antiga Grécia que este fruto tem dado ao mundo as melhoras notas da sua existência e tem dado um doce e um paladar que facilmente não se descreve aos que o provam…Os gomos de romã são especiais, dizem os nutricionistas que carregam consigo muitos oxidantes. Diz a mitologia que as romãs são talvez o fruto mais famoso do médio oriente e usado de método único em receitas fantásticas que têm também pistacho, ou tantos outros produtos que não conseguiria aqui enumerar.

Voltemos à mitologia grega e ao papel da romã.

Certo dia, Persephone foi raptada por Hades e deixou os gomos de romã atrás. Quando as descascamos, os bravos que o fazemos, deixamos também um rasto atrás, em cima, abaixo, em qualquer lado. Os gomos e as romãs são o ânimo de encontrar o caminho perdido. Podemos não ser a Persephone mas continuamos a procurar os nossos gomos de romã infinitamente.

Há dias, sentado num banco gelado de jardim, fiquei admirado por encontrar no sítio mais incomum uma romanzeira. Árvore particular que não esperava ver ali. A resistir ao frio do inverno, lá estava a árvore, como que a olhar para mim e a sorrir. Sorria discretamente quando o vento lhe batia nas folhas e as afastava e aproximava como se fosse uma valsa de Viena. E, escondida no meio, aparecia uma romã. A única fruta que a árvore tinha em si. Apesar de se tentar esconder, de vez em quando deixava vislumbrar-se e mostrava-se. A romã. Levantei-me com cuidado e apanhei-a, roubando-a à árvore que tanto admirei. Como se fosse uma coroa, deixei-a na minha cozinha a amadurecer mais uns dias.

Terminado o período de graça e de admiração, após visionar vários vídeos no YouTube, cortei toda a peça de fruta sem magoar os gomos e, sem voltar do inferno de Hades, deliciei-me com o sabor antioxidante da misteriosa romã.