13 Maio 2023      12:21

Está aqui

Ideias

Estavam muitas pessoas juntas num espaço pequeno. Eram tantas pessoas que o oxigénio no espaço se tornava rarefacto. Poderia este espaço onde acontecem os eventos uma carruagem de comboio ou de metro. Algumas, aqui na cidade de Nova Iorque, em horas de ponta, são tantas que não há espaço para respirar. Parecemos sardinhas em lata. Parece que não consegue entrar ou sair ninguém desse espaço exímio.

Esse mesmo lugar que imagino aqui está ocupado fisicamente por pessoas que respiram, pessoas que se acomodam e se olham de modos mais ou menos desconfiados. Não se conhecem, desejam o seu espaço pessoal e, numa lata de sardinhas, onde o mesmo não existe, nunca o conseguirão ter.

Imaginemos pois, além da ocupação física e do oxigénio, o lugar que terão as ideias de cada um dos ocupantes da carruagem ou do espaço residual. Dir-me-eis que as ideias não ocupam espaço. Bem, permitam-me retorquir que ocupam tanto espaço quanto o que o respirar ocupa.

As ideias são como nuvens invisíveis, bolhas que se criam no ar. Umas muito concretas, parecendo uma leve brisa, outras tão tempestuosas como uma tempestade agressiva. Essas ideias são aquelas que não encontraram ainda a raiz onde devem assentar e a partir da qual devem crescer.

As ideias numa carruagem do metro acabam por se misturar umas com as outras. Não acredito que entrem em conflito, mas seria curioso perceber o que pensam os indivíduos A e B quando na mesma carruagem, apertados como tudo, tentam não olhar fixamente para ninguém. Incómodos, de pé, provavelmente segurando uma mochila, pensam em qualquer coisa, alguma ideia lhes passa pela cabeça.

Será que algum dia as ideias se tornam independentes dos seres que as criam em primeiro lugar? Terão as ideias a independência necessária para correr as ruas e as avenidas da cidade, muito além daqueles que as criaram?

Para construir algo, para chegar a um sítio qualquer, para conquistar o seu espaço, uma ideia tem de viajar, de superar barreiras, de se impor, de conhecer outras ideias. Só assim será a realização de um projeto.

Quantos de nós já criamos projetos, tivemos ideias, estabelecemos metas e desenhamos esboços? Guiados por essas ideias, caminhamos um percurso acompanhados mas sozinhos na nossa mente.

E, de repente, a mesma carruagem atolada de gente e ideias, fica vazia e ficamos (eu ou o leitor) sozinhos com as nossas ideias. Aí, verdadeiramente percebemos a importância do espaço e do vazio.