30 Julho 2022      10:39

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Rankings de escolas, quadros de mérito, de excelência e outras invenções

Chegamos por estes dias de julho ao final do ano letivo de 2021/2022. Um ano tremendamente difícil para as escolas em geral e para os alunos, professores, assistentes operacionais e famílias em particular. Um ano letivo completamente inusitado, marcado de uma forma muito forte pelo contexto pandémico que vivemos, o qual originou elevados níveis de absentismo e nos colocou, a todos, num cenário talvez ainda mais difícil do que aquele que tivemos quando estávamos no modelo de Ensino a Distância.

Mas este momento final de ano letivo constitui-se também como uma oportunidade de reflexão que não devemos desaproveitar. Por isso mesmo, passado algum tempo das discussões e das celeumas em torno das notícias e comentários acerca dos rankings de escolas, parece-me pertinente voltar ao assunto, começando desde logo por manifestar a minha discordância em relação à existência dos mesmos. E se, de uma maneira geral, a sua simples existência já se me afigura totalmente despropositada, a sua divulgação, nos moldes que é feita, é, a meu ver, ainda mais descabida, principalmente porque está longe de refletir a realidade das escolas, o trabalho que nelas se realiza e porque, na maioria das vezes, se compara o incomparável.

Ao pensar um pouco mais sobre o assunto e ao ler os mais diversos comentários acerca desta temática, não posso deixar de me surpreender com as opiniões veiculadas por muitas pessoas responsáveis e sobretudo por muitos diretores de agrupamentos de escolas, ao manifestarem a sua discordância e criticarem os `rankings´ das escolas, elaborados pela comunicação social com base em dados oficiais, por ocultarem muito do trabalho feito por alunos e professores.

A minha manifestação de surpresa acerca destas opiniões reside no facto de serem cada vez mais as escolas e agrupamentos que, ano após ano, vão implementando os famigerados quadros de excelência, de mérito ou de outras designações análogas. Questiono se será lógico que as mesmas pessoas que criticam (e do meu ponto de vista, bem) a existência e a divulgação dos rankings escolares promovam nas “suas escolas” uma outra forma de rankings, ao criarem e também divulgarem, muitas vezes de forma pública, listas de alunos que destacam o suposto mérito ou excelência. Não estarão as escolas e agrupamentos a seguir um mau exemplo e a fazer, de uma outra forma, aquilo que reprovam?

Se muitas vezes se criticam os rankings de escolas, em razão das zonas onde as mesmas estão inseridas, ou das proveniências familiares e meios socioeconómicos dos alunos, estes mesmos argumentos não serão igualmente válidos para qualquer tipo de seriação de alunos que se realize num determinado agrupamento de escolas? Parece-me evidente que sim. E que a mesma injustiça que se observa num caso, se verifica no outro. Na verdade, à semelhança do que acontece com as escolas, também existirão com certeza muitos alunos que, não integrando os referidos quadros, alcançaram resultados mais modestos, mas fruto de um enorme esforço, da sua imensa dedicação e do seu grande empenho.

Portanto, quando se pede o fim dos rankings das escolas não seria melhor começar por dar o exemplo e acabar de vez com os “rankings de alunos” em cada escola?

 

António Rocha Pereira