5 Outubro 2016      10:34

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A PROMISCUIDADE DAS BARREIRAS

“DINHEIROS DO MUNDO”

Muitos se lembram do embate ideológico de até há poucas décadas atrás liderado pelos Estados Unidos e União Soviética: a atuação dos mercados livres contra a propriedade comum dos meios de produção. Essa não é mais a realidade atual, assistimos pois ao embate entre os internacionalistas e os conservadores ou nacionalistas.

Haverão razões para regredir as transformações até aqui ocorridas e regressar à velha formula política centrada na ultra soberania? Ícones desta vertente nascem por todos os cantos ocidentais, como se de cogumelos se tratassem: desde Le Pen a Farange, de Trump à própria Alemanha, onde muitos milhares protestaram contra o acordo transfronteiriço TPP entre os EUA e a UE. Os argumentos são simples de entender, o mercado livre global destrói empregos e negócios, sendo as economias minadas pela competição injusta. Na segurança e defesa, a abertura total de fronteiras traz novos perigos e novos encargos. 

Tendo isto em consideração, deverá ser difícil repetir estes mesmos argumentos e tapar os olhos em relação a tudo o resto em redor. Deve ser difícil a Alemanha protestar contra o acordo de livre comércio com os americanos, mas ao mesmo tempo ser um dos principais exportadores a nível mundial. É igualmente difícil fechar os olhos ao facto dos emigrantes mexicanos terem contribuído com quase 12 biliões de dólares em impostos para economia americana e o Donald Trump ter contribuído com 0 em federal taxes. Será difícil desprezar o aumento de 20% em bens de exportação no PIB mundial, ou o facto desse mesmo PIB se ter multiplicado por 10 desde a década de 50. Esta economia centrada na exportação permitiu tirar muitas centenas de milhões da pobreza em países como a China e a Índia, e ainda transformar economias como a Irlanda, Coreia do Sul e o Japão. Mais de metade das exportações americanas são para países no qual os EUA assinaram acordo de comércio livre. Os consumidores e empresas do ocidente também beneficiam da globalização, obtendo produtos e materiais mais baratos, participando numa maior variedade de mercados e recursos onde antes não haveria possibilidades. O nível de qualidade de vida aumentou de uma forma nunca antes vista.

Assim, que propõe a outra facção, quando se desdobra nos seus mil argumentos, sentados nos seus sofás suecos, com as suas sapatilhas americanas e os seus telemóveis chineses? A aplicabilidade do protecionismo é severa para o consumidor e para as economias no geral, com perdas de quase 30% do poder de compra, e com possibilidades de perda até 60% para os países com menos possibilidades. Que dizer da emigração? Deportação de milhares ou em alguns casos de milhões de trabalhadores estrageiros, que roubam emprego aos residentes. Fechar as fronteiras. Mas no Reino Unido, os emigrantes europeus contribuíram para as finanças públicas com qualquer coisa como 30 biliões de euros, entre 2001 e 2011. O investimento estrageiro directo cria mais competição, tecnologia, empregos e know-how.

Quando se propõe regredir completamente o processo da globalização, como alguns o fazem, há que medir as consequências. É inegável que nos EUA se perderam empregos como consequência direta dos mercados globais livres. Mas há que analisar esses números, e vemos que dos 6 milhões de americanos desempregados das industrias manufactureiras apenas um quinto os perdeu devido à China. No entanto, estes desafortunados não podem ser tratados como simples danos colaterais, há que criar políticas sociais corretivas, há que optimizar a globalização e não a regredir. E nesta área há muito para fazer. Tal pode ser observado quando apenas 0,1% do PIB americano vai para apoios em inserção laboral. Há também que criar novos modelos e novas regras, principalmente em áreas como o ambiente, a exploração e a segurança.

Nada melhor do que olhar um pouco para a história humana, onde os tempos de abertura e remoção de barreiras entre civilizações paralelizaram-se com épocas de prosperidade e desenvolvimento.

 

Imagem de plus.google.com