9 Novembro 2016      02:45

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A DERRUBAR E A ERGUER MUROS HÁ DÉCADAS

A 9 de novembro de 1989, depois de 28 anos de existência, o muro de Berlim caiu. Faz hoje 27 anos. Mas, por detrás dessa cortina simbólica e longe do olhar do público esse ato consumou a passagem de uma sociedade disciplinar para uma sociedade biopolítica ou de segurança, para usar expressões “Foucaultianas”.

Por esse mundo fora, continuam a elevar-se tanto barreiras invisíveis como físicas do mais variado tipo, predominantemente sociais, raciais, religiosas e ideológicas.

Por isso, continuam a existir os muros físicos, como os erguidos pelos EUA na fronteira com o México, entre as cidades de San Diego e Tijuana; por Israel para cercar e aprisionar o povo palestiniano na Cisjordânia; pela Espanha que em torno das cidades de Ceuta e Melilla ergueu cercas no continente africano para barrar a imigração ilegal.

E tantos outros, como o Muro do Chipre que corta a cidade de Nicósia ao meio, dividindo a ilha de Chipre entre Gregos e Turcos; como o muro de Evros entre a Grécia e a Turquia, como o muro de areia que divide o território do Sahara Ocidental controlado por Marrocos para enfraquecer a autodeterminação libertadora do povo Sahauri. Ou os muros ideológicos, como o muro entre as Coreias, assinalado pela zona desmilitarizada da Coreia. Ou linhas divisórias como as de Caxemira, Bagdad e Belfast.

Há, ainda, quem queira erguer novos muros, como a Hungria e a Bulgária para suster a entrada dos refugiados migrantes.

Mas, o mais insólito é o muro que está a ser erguido na Alemanha, nos subúrbios de Munique, um muro mais alto que o de Berlim com quase quatro metros de altura, para que os moradores possam estar separados dos refugiados que a pátria alemã acolheu. Quando se pensa em acolhimento e integração, imagina-se algo completamente diferente.

Ora, os muros não são apenas físicos, são também, ideológicos e políticos, mas manifestam-se sempre como marcas da opressão de um povo sobre o outro, como barreiras mentais e culturais construídas em torno de nós.

No entanto, na origem da edificação de todos esses muros sempre esteve presente o traço característico do capitalismo, que se apresenta como um regime igualitário, mas que, para garantir a sua existência, tem de erguer barreiras para separar pessoas e ideias. Valorizando a competitividade entre povos e não a solidariedade, o que só acentua a desigualdade.

E, é justamente perante a precarização e desigualdade social, se não de reclusão ou confinamento, que se fortalece a instabilidade alimentada pela insegurança, que intensifica a violência, surgindo com ela o crescimento dos circuitos do crime organizado.

Assim, rapidamente se legitimam os mecanismos de vigilância física ou eletrónica, quer em termos de contenção social quer em termos da ampliação do esplendor de punição, atuais processos biopolíticos de controle da circulação, especialmente em relação aos fluxos migratórios globais, seja através da modalidade dos campos de acolhimento, seja através da construção de novos muros.

Mas, o que eu nunca vi, até hoje, foi um muro solucionar um conflito.

Imagem de capa: 1989 in Berlin. (AFP Photo / Gunther Kern)