24 Outubro 2023      10:40

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Arqueólogo diz que “estão a enterrar” o Cromeleque dos Almendres

O arqueólogo Manuel Calado criticou a forma como está a ser feita a reposição de solo no Cromeleque dos Almendres, em Évora, dos mais relevantes do megalitismo europeu.

Em declarações à agência Lusa, o arqueólogo e professor universitário reformado afirmou que “estão a enterrar os Almendres, ou seja, os menires estão a ficar mais enterrados e menores do que na pré-história, quando foram feitos”.

Em causa está o processo de reposição de solo para receber a sementeira de prado que constituirá o coberto vegetal no espaço de implantação do Cromeleque dos Almendres, a cargo da Câmara de Évora e divulgado há uma semana pelo município.

Contudo, a autarquia disse tratar-se de uma “ação corretiva e preventiva” que não implica “qualquer impacto arqueológico”.

“O processo é decorrente das preocupações sobre o estado de profunda e contínua erosão em que se encontrava o solo, parte integrante da estrutura do monumento e único suporte da quase centena de monólitos que o compõem”, salientou a mesma fonte.

Manuel Calado reconheceu que “o pisoteamento dos visitantes provoca erosão” e que “o solo fica exposto e vai havendo ravinamento e erosão”, pelo que sempre defendeu a reposição de solo como solução.

Porém, o que disse ter observado, aquando de uma visita recente ao monumento, “foi um excesso dessa operação”.

“A quantidade de terra que está a ser posta, mais a quantidade que ainda tem que levar para semearem o prado, mais a altura que o prado vai ter, vamos dizer 10 ou 15 centímetros, vai reduzir o tamanho dos menires”, criticou.

Segundo o arqueólogo, o prado que vier a nascer na área de implantação do Cromeleque dos Almendres irá “tapar algumas gravuras que estão perto da base dos menires, de um em particular, e há menires pequenos que vão desaparecer”.

“Há uma distância, no mínimo, de um palmo que as pessoas nunca pisam. Mesmo que se encostem à pedra, o próprio perfil dos menires faz com que haja um círculo junto à base que nunca é pisoteado”, observou o responsável.

Nesse sentido, Manuel Calado propôs que “a reposição de solos se faça só nos espaços entre os menires, até à base”.

“Temos imagens de quando o cromeleque foi descoberto, nos anos 60, e dá para ver qual era a altura dos menires antes de qualquer pisoteamento. No máximo, era até aí que se devia fazer a reposição do solo”, argumentou.

Considerando que a autarquia e os responsáveis pelos trabalhos estão a agir “de boa-fé e com boas intenções”, o especialista em megalitismo lamentou que o projeto tenha sido “feito numa lógica de arquitetura paisagista”.

“Faltou a opinião, parecer e o ‘know-how’ acumulado de arqueólogos que estudam aquele problema”, frisou.

Já a câmara assinalou que houve discussões públicas sobre a intervenção, adiantando que o projeto foi elaborado por um técnico especialista em agronomia e arquitetura paisagista e que os trabalhos são acompanhados por arqueólogos municipais e da Direção Regional de Cultura do Alentejo.

Esta ação, aprovada pela Direção-Geral do Património Cultural (DGPC), “consistiu na colocação de uma camada de terras com 20 a 25 centímetros acima da cota de circulação”, considerada “apropriada em função do abatimento previsível (chuvas, sementeira e pisoteio)”.

 

Fotografia de escapadarural.pt