22 Agosto 2022      11:00

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Viticultores alentejanos atravessam dificuldades

Os viticultores alentejanos queixam-se de quebras na apanha da uva na ordem dos 50%, que se vão refletir em igual proporção na produção do vinho, das vindimas que começam mais cedo ou são adiadas por causa das altas temperaturas e consequente seca, e das matérias-primas, como garrafas, cartão, caixas de madeira e rótulos, com custos que dispararam na ordem dos 30%.

De acordo com o jornal ECO, estes problemas são transversais a muitos viticultores em todo o país, que já tiveram de encontrar outras alternativas para conseguir ter uvas suficientes para produzir vinho e cumprir os prazos de entrega das mercadorias.

Na empresa vitivinícola Ervideira, as vindimas foram antecipadas nas sub-regiões da Vidigueira com 130 hectares (ha) e Reguengos de Monsaraz (30 ha) para produzir as gamas Conde D’Ervideira, Invisível ou Terras D’Ervideira.

Segundo Duarte Leal da Costa, diretor executivo da Ervideira, “já começámos as vindimas há uma semana. Como não temos água suficiente para rega em Reguengos de Monsaraz, as vinhas estão a sofrer muito e logo a vindima vai ser péssima, porque vai haver uma quebra de produção de uva entre os 50 e os 60%”.

O responsável acrescenta ainda que “estou com o problema de aumento de custos e com quebras de produção cujos prejuízos se vão verificar daqui a uns anos”.

Também na Herdade do Rocim as vindimas arrancaram mais cedo. “Podem dizer que esta região é mais seca, mas não me lembro de termos temperaturas de 40 graus tantos dias seguidos”, nota o enólogo e administrador da herdade, Pedro Ribeiro.

Para o responsável, “os vinhos estão desequilibrados por causa da seca, ou seja, não existe um equilíbrio das várias componentes da uva, como acidez ou a cor, para atingir o ponto ideal”.

Por isso mesmo, Pedro Ribeiro não tem mãos a medir para “apanhar as uvas mais cedo do que era habitual e por causa da seca”. Contudo, e contrariamente ao outro produtor, Pedro Ribeiro não prevê, este ano, quebras na produção da uva, porque tem implementado “um sistema de rega gota a gota que é alimentado pela água do Alqueva”, o que atenuou os problemas da seca. “Mesmo assim, este ano tivemos que regar, não tanto por causa do stress hídrico, mas, muitas vezes, por causa do stress térmico, ou seja, a videira não tem sede, ela está sim é muito quente”, explica.

Segundo o enólogo, “a vindima ocorre quando os bagos se apresentam no ponto de maturação para serem colhidos e ganharem nova vida”. Depois, “da vinha as uvas são entregues na adega para que o enólogo possa trabalhar agora com os mostos e resultar no melhor vinho possível”. Estas castas colhidas, este ano, ficam, por isso, armazenadas nas talhas, cubas de inox ou barricas. Por isso mesmo, a empresa não vai sentir quebras na tesouraria este ano.

Outro grave problema que está a afetar os viticultores é quando a cadeia de abastecimento de matérias-primas, como papel para rótulos, e cartão e madeira para caixas, não chega para as encomendas e dispara de preço de dia para dia.

Pedro Ribeiro chegou a lançar, numa parceria com a Quinta da Lagoa Velha, menos 1200 garrafas do novo vinho clarete Bruno Aleixo por causa da escassez. “Queríamos lançar 2000 e só engarrafamos 800, porque não tínhamos garrafas suficientes daquele modelo”, lamentou.

No final de 2021, os produtores fizeram um esforço financeiro para adquirir mais garrafas e se precaverem, tendo em conta a inflação devido à pandemia. “Comprámos mais stock de garrafas do que precisávamos, porque estávamos a prever esta escassez de garrafas. O que teve grande impacto na nossa tesouraria”, sublinha o enólogo Pedro Ribeiro.

Além disso, o diretor da Ervideira queixa-se do atraso dos rótulos e do incremento de custos, que já ronda os 35% de crescimento de despesas em cartões, garrafas, fitofármacos, adubos face ao ano passado.

 

Fotografia de vidarural.pt