5 Fevereiro 2023      12:19

Está aqui

Vestimenta

Hoje de manhã, a criança quando se levantou tinha já a roupa separada pela mãe e de parte para vestir. Eram 6 da manhã, mas era o horário do costume que tinha para se levantar, tomar banho e apanhar a carrinha para ir para outro lugar.

Desde os 10 anos que assim era todas as semanas. Levava a sua singela bagagem de vestimenta para a semana, para uma nova vida. A primeira vez tinha sido a que custara mais. Sair de casa às seis da manhã, não saber exatamente a que horas e em que dia estaria de volta, tornava a criança insegura e absolutamente fora do seu espaço… mas assim seria toda a sua vida futura.

Semana um, seria a primeira. A vestimenta estava dentro do saco. Lá dentro juntavam-se todas as lágrimas que não caíram nem em casa nem no caminho. Roupa simples que era continuamente olhada por todos os outros… calças de ganga. Casaco simples e camisola tricotada manualmente.

Os olhares de outros, eram naturais da existência com que nos deparamos diariamente. Hoje em dia aceitamos muito melhor as diferenças, talvez sejamos menos cruéis com o que não é igual a nós. Diminuir o mais fraco não é solução para os nossos problemas interiores.

Transmitir estes preceitos a todos os envolvidos nesses dias e agora… e em algo que sempre acontecerá… assim é a natureza humana. A nossa vestimenta pode assumir inovação, pode passar de calças a jeans mas nunca deixará de estar dependente do olhar humano.

Pois bem, com a idade, a criança, semana após semana continuou a levantar-se às seis da manhã de segunda-feira, levar o seu saco de roupa arrumado… trazer o mesmo no final da semana. Durante anos, a roupa foi mudando, a criança cresceu e a sua vestimenta foi alterada, ano após ano. Substituídas as primeiras camisolas feitas com tanto carinho pela sua mãe, outras mais industriais foram usadas. Não mudou o seu estilo.

Já não era criança nessa altura. Talvez adolescente, ainda a crescer. Hoje, adulto quase velho, esse mesmo jovem, que outrora foi criança, recorda a carrinha da câmara, a estrada de terra batida, o saco da semana… levantar-se cedo, acordado pela sua mãe e as lágrimas correm pelo rosto, sabendo que nem a idade, nem esse tempo regressam.

A vestimenta, nem a do passado, nem a do presente serão uma realidade no futuro que absolutamente desconheço.