Crónica eutópica #2
Évora é uma cidade demasiado “autocêntrica” e tem sido planeada e gerida em função dos automóveis. Segundo os últimos dados disponíveis (CENSOS de 2011) 80% das pessoas que se deslocavam em Évora por motivos de trabalho faziam-no de automóvel. E cerca de 2/3 dos estudantes também se deslocavam de automóvel. Dez anos depois esses números são, certamente, bem superiores.
Uma cidade pensada para os automóveis é uma cidade menos amiga das pessoas, sobretudo das crianças e jovens, mas também dos idosos e dos portadores de deficiência. E de todos os outros, pequenos comerciantes incluídos. Pensem nas ruas em Évora onde o comércio é mais dinâmico. O que têm todas em comum? São ruas sem carros.
O espaço e o dinheiro não são elásticos. Mais recursos para os carros, menos espaço e dinheiro para passeios, árvores, fruição do espaço público, esplanadas, enfim, para o encontro entre pessoas. Uma cidade com mais carros despromove o exercício físico e a autonomia das crianças e jovens. Em contraponto, deixa-nos a todos com menos dinheiro no bolso e, em muitas situações, com menos tempo. Em deslocações curtas ir a pé ou de bicicleta é bem mais rápido que ir de carro. E se as crianças e jovens tiverem autonomia e segurança para se deslocarem sozinhas, sobrará mais tempo para aqueles que passam o tempo a transportar os filhos.
Em Junho de 2020 quase 500 cidadãos de Évora apresentaram uma petição à Assembleia Municipal de Évora solicitando a promoção do debate público sobre a necessidade de apoiar e fomentar o uso dos modos activos de deslocação na cidade (andar a pé e de bicicleta).
A propósito da elaboração do Plano de Mobilidade que está em curso, a Câmara Municipal de Évora espera um contributo de todos os munícipes. O colectivo que emergiu da petição de junho de 2020 já apresentou até ao momento mais de 20 propostas. Algumas de escala mais fina como a melhoria dos perigosíssimos atravessamentos pedonais das Portas do Raimundo e de Alconchel, outras à escala do bairro ou da cidade como o aproveitamento do estudo feito em 2013 para a construção de ciclovias da rua Horta das Figueiras (Projecto Cyclo da CIMAC) ou da ponderação e debate sobre a construção de uma grande circular pedonal e ciclável para Évora aproveitando, sempre que possível, as ribeiras da Torregela e Xarrama.
E como a mobilidade é assunto que diz respeito a todos, em 2019 a Associação Gare promoveu um projecto, Évora 2.0, Quando as Crianças e Jovens Pensam a Mobilidade na Cidade, que entretanto foi reconhecido pelo Ministério da Educação como prática de referência no Manual de Educação Rodoviária recentemente publicado. Mais uma ferramenta ao serviço da reflexão sobre a mobilidade que queremos promover em Évora e noutros locais.
Mais sobre:
A participação na elaboração do plano de mobilidade em Évora | https://www.cm-evora.pt/en/municipe/areas-de-acao/ambiente/plano-de-mobilidade-urbana-sustentavel-de-evora-pmuse/
Propostas já apresentadas para o Plano de Mobilidade em curso | https://coronavias.com/
Projecto Cyclo da CIMAC| https://coronavias.com/1-a-rua-horta-das-figueiras/
Projecto Évora 2.0, Quando as Crianças e Jovens Pensam a Mobilidade na Cidade | https://fixecity.net/
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Fernando Moital, pai , cidadão, professor, ciclista, peão, dendrófilo e cronista eutópico.
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