9 Dezembro 2020      10:58

Está aqui

Universidade de Évora desvenda murais de Almada Negreiros

A Universidade de Évora (UÉ), através do Laboratório HERCULES, vai levar a cabo um estudo científico das técnicas pictóricas e dos materiais usados nos murais de Almada Negreiros, existentes em Lisboa.

O estudo, que pretende desvendar mais sobre a obra deste modernista português, é liderado pela investigadora Milene Gil, que considera que “estas obras têm sido objeto de discussão preferencial no que respeita aos seus atributos plásticos, iconográficos e simbólicos, mas são poucos ainda os estudos que abordam, e muito menos os que aprofundam, as particularidades das produções, as referências e repercussões dos murais pintados entre artistas conterrâneos e gerações sucessivas”.

Adicionalmente, a investigadora refere que a situação se agrava no que toca à materialidade da obra de pintura mural de Almada Negreiros e as suas implicações no seu estado de conservação: “todas as suas pinturas murais estão catalogadas como frescos, mas esta poderá não ter sido a única técnica pictórica realizada”, sublinha Milene Gil.

Em comunicado enviado a este jornal, a UÉ refere que Milene Gil sugere que “os materiais empregados e o modus operandi de Almada Negreiros são praticamente desconhecidos”, e que “Almada era conhecedor da técnica do fresco, mas também era um experimentalista”.

O projeto, com a duração de três anos e recentemente financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, pretende dar resposta às questões “até que ponto Almada Negreiros foi inovador neste campo?”, ou “Quais foram as suas fontes e tendências no desenvolvimento da sua prática como pintor muralista?”.

Para tal, vão ser levadas a cabo três abordagens distintas. Em primeiro lugar, o estudo começa no campo da investigação de história de arte e história das técnicas da produção artística com “recolha e avaliação de documentação e sua integração com os resultados obtidos dos exames de superfície e caracterização material”. Em segundo lugar, os investigadores vão realizar exames de superfície das pinturas com recurso a técnicas convencionais e avançadas de imagem no visível, visível-rasante e no invisível. Por último, irá proceder-se à caracterização material, conjugando técnicas de análise in loco não invasivas com técnicas de microanálise e técnicas analíticas laboratoriais.

Os resultados gerados desta investigação e a sua disseminação a nível nacional e internacional “constituirão um importante passo em frente no conhecimento, valorização e conservação da arte mural de Almada Negreiros e rampa de soluções inovadoras para a sua usufruição” destaca a investigadora.

Este projeto, de natureza pluridisciplinar, nasceu da parceria entre o Laboratório HERCULES da UÉ, o Laboratório José de Figueiredo da Direção Geral do Património Cultural, o Instituto de História de Arte da faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e a Administração do Porto de Lisboa.

Recorde-se ainda que o Laboratório HERCULES tinha já iniciado, em 2017, uma campanha analítica que visou caracterizar a técnica pictórica e os materiais empregues por Almada Negreiros nos murais pintados entre 1939 e 1940, na antiga sala de receção e atrium de entrada do edifício Diário de Notícias em Lisboa.

 

Fotografia de arte-coa.pt