16 Maio 2016      12:03

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UMA EUROPA ARMADA "ATÉ AOS DENTES"!

ENTRE NAÇÕES

Eu tenho um hobby! É a forma perfeita de começar esta crónica! Esse hobby chama-se viajar, não no sentido literal da palavra pois a viagem em sim, o deslocar de um ponto X a um ponto Y, é algo que é tremendamente chato, enfadonho e cansativo! O meu gosto por viajar é um gosto por descobrir e conhecer. Descobrir e conhecer novos povos, novas culturas, novos hábitos, novos modos de vida diferentes dos meus, e beber do enriquecimento e sabedoria que a interacção com outras culturas nos concede. É um hobby que pratico com gosto, que praticarei sempre que me for possível, e que só não pratico mais pois as circunstâncias ainda não me o permitem.

Depois desta bizarra introdução o leitor deverá estar a perguntar-se o que raio tem esta introdução a ver com o título e imagem desta crónica. Pois tem tudo a ver, e passarei ao que interessa já de seguida.

Na minha ainda curta vida de viajante consegui ainda apenas visitar 5 países diferentes, Espanha em 2011, Alemanha em 2013, Holanda em 2015, Republica Checa e Polónia ambos este ano, de onde regressei há dias.

Estas 5 viagens podem ser separadas em 3 grupos diferentes. Espanha 2011 e Alemanha 2013 situam-se no grupo de viagens antes do atentado ao Charlie Hebdo. Holanda 2015 situa-se no grupo pós Charlie Hebdo e antes dos atentados ao Bataclan e ao Aeroporto de Zaventem. E finalmente República Checa e Polónia 2016, situam-se no pós todos os atentados mencionados.

Dissecando o primeiro grupo, quando visitei a Espanha e a Alemanha em 2011 e 2013 respectivamente, encontrei dois países completamente tranquilos no que à segurança diz respeito, algumas patrulhas policiais nas ruas como de costume mas até aí tudo normal, andar pelas ruas de Barcelona e Hamburgo era tão normal como andar pelas ruas de Lisboa.

Passando para o segundo grupo, na minha visita à Holanda, que aconteceu após o atentado ao Charlie Hebdo, tive o privilégio de privar uma semana com militares holandeses, estava numa conferência a ser realizada na Real Academia Militar Holandesa, onde os Cadetes eram quem nos acompanhava de manhã à noite. Aí notei o facto de em cada viagem de trabalho feita nessa semana, as ordens do Comandante para os Cadetes eram bem claras, usar o uniforme militar era proibido! A sua utilização fora das unidades militares estava temporariamente suspensa, não apenas para os Cadetes, mas para as forças armadas em geral. Num desses dias por obra do acaso, o Comandante ao almoço pediu licença e sentou-se no lugar à minha frente, durante a refeição tive a oportunidade de trocar algumas palavras com o mesmo, e a meio da conversa lembro-me desse pormenor dos uniformes e pergunto o porquê dessa ordem. O Comandante usando do seu amigável sentido de humor e em tom de ironia responde: “because I say so!” (porque eu assim o digo!) rindo-se de imediato. Eu voltei a tentar a minha sorte, e o Comandante acabou por esclarecer a minha dúvida, dizendo que era uma medida preventiva devido a no seio das forças armadas holandesas ter sido elevado o grau de alerta de atentados contra militares, pedindo-me de imediato para não me preocupar nem preocupar os restantes participantes com esta informação. Mas entretanto, nas ruas de Breda, Roterdão ou Haia, não eram de notar presenças policiais atípicas nas ruas, tudo normal.

Finalmente, passando para o último grupo, na minha recente visita à República Checa e Polónia, temporalmente localizada após os atentados ao Charlie Hebdo, Bataclan e Aeroporto de Zaventem, notei diferenças substanciais ainda em Portugal, quando que à saída da estação de metro do Aeroporto Humberto Delgado se fazem notar dois agentes da polícia fortemente armados com espingardas metralhadoras, algo que não era normal há três meses atrás. Depois disso, e depois de 3 horas de viagem, após aterrar em Praga, à medida que percorro os corredores do terminal do aeroporto, deparo-me com um polícia fortemente armado, de espingarda metralhadora em punho, acompanhado de dois militares igualmente armados a patrulhar em grupo o terminal do aeroporto! Saio do aeroporto e apanho um táxi até à estação central de comboios de Praga, onde nessa mesma estação me volto a deparar com o mesmo cenário, um polícia acompanhado de dois militares. Apanho o comboio e três horas depois saio na cidade de Ostrava no estremo oriental do país, nessa mesma estação central, à saída deparo-me com um polícia a patrulhar a entrada principal da estação! Nos dias seguintes, na mesma cidade tive oportunidade de estar num centro comercial, e heis senão quando vejo uma patrulha composta por dois polícias e um militar mais uma vez fortemente aramados, dentro do centro comercial! Noutro dia, na praça principal da cidade o mesmo cenário, dois polícias, um militar! Dias depois em Praga, num sábado apinhado de turistas, o mesmo cenário em várias zonas da cidade, patrulhas de polícias e militares. Em Cracóvia na Polónia, cenário idêntico, onde está um polícia está um militar!

Em jeito de conclusão, e porque esta crónica já vai longa, pode dizer-se que as minhas viagens estão separadas por apenas 5 anos, se contar-mos apenas a partir de 2013, data da minha visita à Alemanha, quando as coisas estavam ainda normais, o período temporal resume-se apenas a 3 anos! Em 3 anos, a cara da Europa mudou, nota-se o medo, reflecte-se nestas medidas de prevenção, não se reflete no cidadão comum, ainda! E espero honestamente que nunca se venha a notar, porque no dia em que o medo seja reflectido através do cidadão comum em vez de apenas pelas medidas de segurança, a Europa não será mais a Europa que nos criou, nem a Europa que nós queremos. Muito menos será a Europa idealizada por Jean Monet e Robert Schuman, uma Europa que foi idealizada sob os valores da paz e da segurança dos seus cidadãos. Pois quando esses mesmos cidadãos não viverem em paz nem em segurança, e viverem mergulhados no medo constante e no terror, a Europa falhou! Falhou aos seus cidadãos, mas sobre tudo, falhou a si mesma… Medidas urgem!

Imagem de capa daqui.