5 Março 2022      09:50

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Uma cidade rodeada por montes que tocam o céu

As primeiras nuvens juntavam-se em volta daquele espaço plano que se protegia no meio das montanhas. Visto do céu, montanhas que tocavam o azul, em picos brancos, tal como lençóis estendidos ou, noutra perspectiva, mantos brancos imperiais.

Um largo e vazio campo plano, coberto por terrenos verdejantes quebrado só por tons de azul, que se distribuíam aleatoriamente em vários pontos estratégicos. Não havia nada mais nesse reduto protegido pelas montanhas.

Pensava-se que nunca nada quebraria a disposição original, acreditava-se que jamais uma brecha seria abriria caminho ao meio do vale escondido.

Nos dias em que os montes tocam os nuvens causam emoção tal que as lágrimas dessas nuvens vertem e tornam o azul mais azul e o verde dos campos engrandece e renasce em todo o seu esplendor. Tudo parece intocável e inalterável.

Porém, aquilo que o ser humano consegue e a sua persistência leva a que a mais inusitada das criações, tal como a criação de uma cidade no meio de montes que tocam o céu, se torne uma realidade. Não uma realidade rápida e surpreendente no imediato, mas um crescente de meses, anos, atores e situações. No fundo, aquilo que acontece no crescimento de algo, está profundamente entrelaçado com diversos factores e ligado ao tempo.

Um dia, os primeiros chegaram em carroças que conseguiram as brechas nas montanhas, a elas seguiram-se as carroças e os bois trariam as pedras que fariam a casa inicial e muitas outras, até ao templo e, nos raios de sol, no choro da chuva, no azul e no verde, as carroças transformaram-se em carros, o vale expandiu-se e muitos outros vieram.

Aquilo que parecia perene era agora transformação constante e crescimento. O vale passou a ser cidade. As montanhas continuaram a rodeá-lo e os montes ainda tocam o céu com os seus alvos picos, querendo também elas crescer.