18 Fevereiro 2023      11:21

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Um pé maior que o outro

Era um sábado. As feiras terminariam pouco depois do meio dia. Tinham começado muito cedo. Ainda o dia não tinha nascido, já o reboliço no lugar da feira começava a mexer. A feira era isso mesmo, tudo a acontecer naquele lugar, o gado a chegar vindo de tantos lugares, tão desconhecido de tanta gente e, sem pretensões, todos se encontravam ali, no mesmo lugar.

A feira estava bem dividida em diferentes áreas. Num espaço maior, a feira do gado. Ondear negociavam as ovelhas, as vacas, os bois, as cabras e tantos outros animais que se enquadravam na categoria do gado. Perto dessa zona, começavam os negociantes de ferragens, onde vendiam de tudo o que era ferro. Era muito bonito poder ver naquela feira tudo arrumado por áreas, tudo certo. Naquela secção todas as trempes, todos os tachos de ferro, as ferraduras, as tenazes e todos os utensílios que faziam parte daquela estirpe.

Ao lado, os barros, que tinham vindo de longe mas estavam em todas as formas, desde o pote, onde se podiam curar as azeitonas, a panela de barro onde se cozinhavam os grãos, onde se cozia a couve e onde se aquecia, no fim do dia, a água para lavar os tachos… na zona dos barros também se vendiam os bibelots que enfeitavam a casa…

Saindo dessa zona, os plásticos… bem, desses que passaram a fazer parte destas feiras, muito havia a dizer… nesta zona há de tudo. O mais simples alguidar, a caneca sempre em pé, o coador. Quantas vasilhas…

Ao lado, as farturas… quatro vendedores de faturas que anunciavam cada uma mais alto que a outra o quanto as suas farturas eram melhores.

Era a feira… e ainda não chegamos aos frangos assados, cujo cheiro entrava tão subtil pelas narinas de todos os presentes na feira que ninguém se ia embora sem se sentar e consumir um desses frangos assados no carvão antes de ir embora.

Até o rapaz que tinha um pé maior que o outro por lá passou. Aliás, esse rapaz passou por toda a feira, desde o sol nascer, a feira do gado, até ao frango assado, esperando ansiosamente chegar ao entretenimento… os carrinhos de choque, os carrosséis, tudo o que era a fantasia… naquele mundo, para quem tinha um pé maior do que o outro talvez a feira fosse o lugar onde a liberdade aparecia mais suave.

Ter um pé maior do que o outro não é ser diferente. Todos temos um pé maior do que o outro… ignoramos essa realidade.

Assim o fazemos da mesma forma que ignoramos a importância que as feiras têm e tiveram desde sempre nas nossas vidas.