24 Março 2017      15:24

Está aqui

UM FUNDO PARA O INVESTIMENTO SOCIAL NO ALENTEJO

Várias ideias, projetos e iniciativas de muitos empreendedores e organizações, com relevante impacto social, ficam aquém de todo o seu potencial por ausência de financiamento em fases determinantes para o seu desenvolvimento.

Muitos destes projetos poderiam mudar, verdadeiramente, a vida de muitas pessoas e suas famílias, poderiam realmente fazer a diferença que importa, podiam contribuir decisivamente para solucionar problemas sociais graves e negligenciados.

Na região Alentejo, e segundo o diagnóstico realizado no âmbito do Mapa de Inovação e Empreendedorismo Social (MIES), em 2013, 31% dos Observadores Privilegiados inquiridos referia que o principal obstáculo ao desenvolvimento das iniciativas com elevado potencial de impacto social era, precisamente, o financiamento. Por outro lado, e numa perspetiva nacional, segundo uma estimativa do Laboratório de Investimento Social a partir de dados da Conta Satélite da Economia Social (2013) do INE, estimava-se que as associações e outras organizações da economia social tivessem uma necessidade liquida financiamento anual na ordem dos 750 milhões de euros.

No que diz respeito ao Alentejo, estou convicto que existem vários bons projetos – mas que apenas foram financiados na fase inicial, de ideação -  e que, por ausência de financiamento ao seu desenvolvimento, ficam por conseguir demonstrar todo o seu potencial. Estou também convicto que muitos deles poderiam ser apoiados e desenvolvidos sob o modelo de negócio social, alinhando impacto social com retorno financeiro, visando a autossustentabilidade e o crescimento.

A ser verdade o que refiro, e considerando que no Alentejo vários empresários e grupos de empresários, fundações e outros agentes já desenvolvem iniciativas dispersas de subsidiação e filantropia às organizações e projetos no âmbito da sua politica de responsabilidade social, seria de todo pertinente que os mesmos pudessem constituir uma sociedade veiculo que, com gestão autónoma e profissional, financiasse um Fundo de Investimento Social para investir em iniciativas com as características que referi.

Desta forma, mais impacto social seria produzido na região, ou seja, uma maior quantidade de problemas sociais teria melhores respostas. Por outro lado, e considerando que estas iniciativas serão, potencialmente, geradoras de receitas, e que as mesmas reverterão em parte para o Fundo, seria possível apoiar um maior numero de iniciativas. Criar-se-ia assim um ciclo virtuoso de investimento, colmatando uma falha de mercado, potenciado o impacto social e criando sustentabilidade nas respostas.

Várias experiências internacionais já mostraram que é possível e sustentável, e já existe legislação europeia e nacional que o permite. Seria certamente interessante a existência deste instrumento à escala regional, inovador e diferenciador, que permitisse que muitas das iniciativas de empreendedorismo e inovação social obtivessem assim o necessário capital para o seu desenvolvimento, gerar impacto e gerar valor.

Acredito por isso que a constituição deste Fundo para o Investimento Social do Alentejo, somando verbas de investidores privados e aproveitando parte dos 90 milhões de euros disponibilizado em breve pela Portugal Inovação Social na forma de instrumento financeiro, pudesse contribuir de forma muito significativa para um novo paradigma de soluções de problemas sociais ao nível regional e para a sustentabilidade das organizações que as promovem.

Utopia? Quem sabe...mas penso que vale a pena, pelo menos, pensar e discutir sobre o assunto!

Imagem de capa de DETROIT FREE PRESS VIA GETTY IMAGES